Gestão de consultório

Cuidados essenciais para armazenamento

É importante investir na organização física e na manutenção periódica do estoque das centenas de produtos de consumo odontológico

A prática da Odontologia exige o gerenciamento e o armazenamento de centenas de produtos que precisam estar à disposição. Nem sempre é fácil lidar de forma eficiente com a logística de compra de estoque, com seu devido armazenamento, além de controlar o prazo de validade dos produtos em si. O consultório deve ser um ambiente de grande controle e prevenção de infecções microbiológicas de maneira geral.

“Muitas faculdades de Odontologia não oferecem disciplinas importantes como administração de consultório e biossegurança. Diferentemente do que ocorre em um hospital, por exemplo, que tem um setor de compras, cabe ao cirurgião-dentista fazer tudo, da aquisição dos suprimentos até funções de RH, para dialogar bem com os funcionários”, comenta Liliana Donatelli, consultora em Biossegurança em Saúde da Cristófoli, que dá a seguir algumas recomendações principais:

Guarde os insumos em suas embalagens originais e preste realmente atenção ao vencimento
A fim de economizar espaço nos armários, é comum os profissionais jogarem fora as embalagens de origem e acomodarem o conteúdo em recipientes menores. Com isso, acabam se perdendo informações preciosas, como data de validade e número do lote.

Se for necessário transferir o produto, busque anotar de forma clara esses dados. Caso adquira outros lotes do mesmo tipo de material, procure não os juntar em um mesmo recipiente.

É importante ressaltar que apenas alguns rótulos contêm prazo de validade determinado do produto depois de ele ser aberto. Uma prática recomendável é colocar uma etiqueta com a data da abertura do produto, para documentar há quanto tempo ele saiu da embalagem original. Outra dica da especialista é acrescentar uma etiqueta vermelha para sinalizar que o produto está próximo do vencimento.

“É comum minimizar os riscos por trabalhar diariamente com os materiais, achando que, como não aconteceu nada em décadas, nunca vai ocorrer. O excesso de confiança acaba causando acidentes”

Mantenha um fichário com providências em caso de acidente

Informações sobre o modo de usar de determinado produto, quais são os riscos que ele oferece à saúde e, principalmente, as pro-
vidências a serem tomadas em caso de acidente costumam também se perder quando são descartadas as embalagens originais.

O correto, segundo Liliana, é armazenar em uma pasta de fácil acesso todas as fichas com procedimentos de segurança — especialmente dos produtos químicos. Isso dá certo trabalho para organizar, mas será fundamental em caso de acidente.

“Se você espirrar um ácido nos olhos, o que deve fazer para remediar? Caso não tenha um acesso fácil a essa informação, pode tomar medidas erradas e piorar a situação”, diz a especialista.

Invista na organização física do seu depósito
Aqui, a situação se assemelha ao momento em que você chega do supermercado e precisa guardar a lata nova atrás da velha, para consumir primeiro a que tem vencimento mais próximo. Esse é o sistema de organização chamado FIFO (First In, First Out, ou, traduzido para o português, primeiro que entra, primeiro que sai). “Se você quiser usar um material e, ao pegá-lo, perceber que ele está vencido, isso refletirá no orçamento: imagine perder um frasco de resina que ainda tenha muitas doses”, comenta.

Tenha um refrigerador específico para os insumos
Os produtos que precisam ser refrigerados merecem uma geladeira exclusiva. “Nas visitas que faço a consultórios, vejo com frequência a marmita do pessoal guardada junto com os materiais de consumo odontológico. Além de uma coisa contaminar a outra, o abre e fecha da porta interfere no controle de temperatura e, consequentemente, afeta o armazenamento dos produtos e o seu prazo de validade”, diz a especialista. Outra recomendação é ter um gerador nobreak, a fim de manter o equipamento ligado em eventuais quedas temporárias de energia.

Em que implica usar material vencido?

“Ao utilizar qualquer produto fora da validade, o dentista fere princípios éticos da profissão e comete uma infração, passível de multas da Vigilância Sanitária. Pode até ser que não aconteça nada ao paciente, mas não se deve confiar nisso. E vale ressaltar que, dependendo de como o insumo é armazenado ou transportado, ele pode estragar até antes da data de vencimento. Muitos problemas não surgem no atendimento imediato ao paciente. No caso do ataque ácido com o produto vencido durante uma restauração, por exemplo, pode ser que ele não tenha a mesma atuação e o procedimento apresente menor durabilidade. Mas será um problema que se manifestará no futuro”, explica Liliana Donatelli.

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