Pesquisa e Tendências

Remineralização do esmalte dentário

Pesquisa indica possibilidade de replicar artificialmente o processo natural de formação da camada externa dos dentes

A Odontologia está sempre em busca de métodos mais eficazes e menos invasivos para os tratamentos dentários. A procura por métodos mais efetivos para reconstruir o esmalte é um deles e, recentemente, deu um novo passo. Cientistas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, lançaram luz sobre o assunto ao divulgar a possibilidade do uso de derivados de amelogenina para remineralizar o esmalte dentário.

O esmalte dentário é a camada externa do dente e o principal responsável por prevenir problemas como a cárie. Ele é o tecido mais mineralizado do nosso corpo, composto por 95 a 97% de materiais inorgânicos formados por nanocristais de hidroxiapatita altamente organizados. Por ser um tecido biológico altamente mineralizado, o esmalte é visto como uma substância puramente inorgânica e não pode, por isso, autorregenerar-se devido à ausência de uma matriz orgânica.

A proteína chave na formação do esmalte é a amelogenina, presente na sua matriz orgânica. Secretada pelo amenoblasto, ela tem a função de capturar íons constituintes, sintetizando o mineral e modulando o crescimento dos cristais de hidroxiapatita.

Por meio da observação desse processo natural de formação do esmalte, os pesquisadores da Universidade de Washington buscaram vias biomiméticas capazes de imitar o caminho de mineralização. 

Como fizeram

Com o uso da bioinformática, eles identificaram sequências específicas de aminoácidos da amelogenina e as sintetizaram para utilizar o peptídeo no estudo como ingrediente ativo na solução para formação da camada mineralizada.

Para avaliar o processo de remineralização, os pesquisadores primeiramente criaram artificialmente lesões que mimetizassem lesões de mancha branca e/ou cáries incipientes. Na etapa seguinte, submeteram as amostras ao processo de remineralização.

As amostras foram tratadas em diferentes grupos, contendo ou não peptídeo, fluoreto, ou a combinação de ambos. O fluoreto foi utilizado em concentração baixa (1.100 ppm, semelhante ao presente em produtos de uso caseiro, como as pastas de dentes) e alta (20.000 ppm, semelhante ao usado em clínicas odontológicas).

Resultados

Embora a combinação de peptídeo e fluoreto tenha sido capaz de depositar o flúor e formar uma fina camada mineral parcialmente cristalizada como fluoropatita, somente a amostra contendo peptídeo isolado foi capaz de remineralizar o esmalte e gerar uma camada mineralizada densa bastante espessa (10 μm) contendo hidroxiapatita, semelhante à estrutura do esmalte saudável. Além disso, esta camada remineralizada recém-formada exibiu integração com o esmalte subjacente.

Este é um resultado importante pois indica a possibilidade de replicar artificialmente a formação dos nanocristais de hidroxiapatita e o processo de remineralização do esmalte – bem como fortalecê-lo em uma base diária, quando parte de uma rotina odontológica bem ajustada.

 

Próximos passos

 O resultado da pesquisa poderá constituir a base para o desenvolvimento de novos produtos (como pasta de dentes biomiméticas, géis, soluções e compostos) e tratamentos clínicos menos invasivos para a restauração de cáries em estágio inicial, como as incipientes, lesões de mancha branca e hipersensibilidade.

Os pesquisadores salientam que este é um método ainda experimental e não testado em humanos, mas, segundo eles, quando plenamente desenvolvida, a tecnologia de remineralização guiada por peptídeo será a base para o desenvolvimento futuro de tratamentos inovadores para a saúde dentária.

Para saber mais

Dogan S, Fong H, Yucesoy DT, Cousin T, Gresswell C, Dag S, Huang G, Sarikaya M. Biomimetic tooth repair: amelogenin-derived peptide enables in vitro remineralization of human enamel. ACS Biomater Sci Eng. 2018;4(5):1788-96. doi: 10.1021/acsbiomaterials.7b00959. Epub 2018 Mar 21. PMID: 33445335.

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