Como diagnosticar casos de abordagem clínica ou cirúrgica em DTM
O emprego de cada uma das modalidades de controle das DTMs deve ser estabelecido por meio do diagnóstico obtido principalmente no histórico de dor do paciente
Prof. Dr. Antônio Sérgio Guimarães
A disfunção temporomandibular (DTM) pode ser definida como uma variedade de condições que afetam as características anatômicas e funcionais da articulação temporomandibular (ATM), os músculos da mastigação e estruturas associadas. Fatores que contribuem para a complexidade das doenças temporomandibulares são sua relação com a dentição e a mastigação e os efeitos sintomáticos em outras áreas, o que explica a dor na articulação ou nas demais regiões, incluindo principalmente os dentes, e as dificuldades na aplicação de procedimentos diagnósticos tradicionais, sendo os exames por imagem muitas vezes inadequados ou não específicos.1
As assimetrias bilaterais das ATMs não devem ser consideradas estados patológicos,2,3 uma vez que todos somos assimétricos. Assimetrias decorrentes de doenças que geram anormalidade no desenvolvimento, trauma, subluxação, luxação, artrite e neoplasia,4 no entanto, não podem ser ignoradas. A frequência de pacientes com sintomas associados às disfunções temporomandibulares (DTMs) é um achado comum na prática odontológica geral.5–7 Já o controle dos pacientes com DTM é muitas vezes complicado por sua etiologia multifatorial,8,9 sendo essa condição mais frequente em mulheres, de acordo com estudos.6,10–12
Entre os critérios de diagnósticos para tais condições, o mais utilizado ainda é o DC/TMD,13 o qual classifica os subtipos de DTM em:
- Dores relacionadas aos músculos da mastigação;
- Desordens do disco articular, com e sem queixa de dor;
- Cefaleia atribuída a DTM;
- Doença intra-articular degenerativa e subluxação.
O controle das DTMs é dividido em opções não invasivas, minimamente invasivas e invasivas. A substituição da articulação temporomandibular por prótese é reservada para articulações gravemente danificadas com doença em estágio terminal quando todas as outras modalidades de tratamento mais conservadoras foram ineficazes.14
Entre as modalidades não invasivas, as placas de mordida são amplamente indicadas para o controle das alterações musculares, articulares ou ambas.15–20 O emprego de fármacos na área, por outro lado, é questionável.21–25
Entendendo a aplicação do DC/TMD, observamos que, no grupo de subtipos musculares, condutas cirúrgicas não tem sua indicação em nenhum dos subtipos, pois o seu controle deveria ser feito por meio de alternativas não invasivas ou minimamente invasivas8,26–31 e/ou farmacológicas.32,33
Ainda existe muita controvérsia em relação aos aspectos oclusais e ao tratamento das DTMs, porém, diferentemente do que víamos no passado, não há suporte do emprego de correções ortodônticas ou protéticas em tais pacientes.34 A dor facial musculoesquelética parece afetar variadamente as posições e os movimentos mandibulares.35 Assim, questiona-se a validade dos registros maxilomandibulares em pacientes com dor facial presente (DTM muscular/articular). Nesses pacientes, que, simultaneamente, precisam de uma reabilitação protética, os cirurgiões-dentistas devem ser cautelosos em relação ao tempo da realização dos procedimentos restauradores36 e em relação a muitos dos dogmas existentes na Odontologia.37
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES (DC/TMD): DIAGRAMA DE DECISÃO DIAGNÓSTICA
Se focamos nas desordens dos discos, os artigos são controversos em alguns aspectos, mas são os subtipos de DTM onde os procedimentos mais invasivos têm o maior suporte de serem utilizados.1,38 Já nos casos de DTM sem dor, a avaliação de qual comprometimento mecânico está presente deve ser feita por meio de exames clínicos ou de imagem validados40 para o restabelecimento da dinâmica mandibular.
Portanto, o emprego das modalidades de controle das DTMs com queixas de dor deveria ser baseado no correto diagnóstico, obtido principalmente no histórico de dor do paciente.39
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Antônio Sérgio Guimarães
Professor Doutor responsável pelo programa de Mestrado profissional e Especialização em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial da Faculdade São Leopoldo Mandic (unidades São Paulo, Campinas e Fortaleza).