

Realidade aumentada
O mundo virtual e real se unem na formação de profissionais de Odontologia
Inserir um estudante de Odontologia em situações de emergência ou até mesmo de rotina de consultório de modo realista é possível com o uso da realidade virtual aumentada (RVA). Por meio do uso da tecnologia para simular ocorrências, os alunos podem experimentar vivências, pensar em diagnósticos e em soluções, aprender a agir diante de imprevistos e aprimorar técnicas, em trabalhos que terão impacto ao longo de toda a sua carreira.
É o que acontece diariamente no Laboratório de Simulação Clínica Realística e de Realidade Virtual Aumentada do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais, o Lab.Sim-ODC, coordenado pelo professor Oswaldo Crivello Junior, na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP). A seguir, ele fala um pouco sobre os desafios da criação e da implementação do laboratório e também das inúmeras possibilidades do uso da RVA no ensino da Odontologia. O futuro é agora!
Qual é a definição de realidade aumentada e qual é a importância de sua utilização na Odontologia?
A RVA é uma tecnologia que integra as informações virtuais ao mundo real, proporcionando uma experiência interativa e imersiva. Ela oferece novas possibilidades para o raciocínio diagnóstico, reflexões sobre opções de tratamento e sobre a formação complementar do cirurgião-dentista. A realidade aumentada possibilita também o desenvolvimento das habilidades necessárias para maior segurança no que tange a atividade do profissional.
Em que tipos de situação o treinamento pode ser fundamental no atendimento a um paciente?
As possibilidades são inúmeras, não apenas na contribuição para o desenvolvimento do correto raciocínio diagnóstico, como também no reposicionamento frente a imprevistos, nas opções terapêuticas e no entendimento e na prevenção de interações medicamentosas, como no caso de anestésicos locais. Neste caso, a RVA possibilita não apenas a indicação do correto anestésico como o aperfeiçoamento da habilidade da técnica. Mas há outras aplicações, em cirurgias, nos tratamentos endodônticos e em dentística.
O LEME, da FOUSP, surgiu em 2008. Não faz tanto tempo, mas desde então houve mudanças significativas na tecnologia que permitam novas maneiras de explorar o conhecimento e expandir as possibilidades pedagógicas do laboratório?
O Laboratório de Emergências Médicas em Odontologia surgiu como um laboratório de simulação clínica com manequins realistas. A simulação clínica realística é uma estratégia de ensino. O LEME surgiu, inicialmente, apenas para o ensino do suporte básico de vida e de estudos sobre emergências médicas que possam ocorrer no ambiente profissional odontológico. Em 2021, ele foi absorvido pelo Lab.Sim-ODC, inaugurado naquele ano. Seu escopo foi ampliado para as diferentes áreas de atuação do profissional, não se limitando mais apenas a emergências.
Temos, além do consultório de simulação com sala espelhada, um espaço destinado à realidade virtual onde desenvolvemos trabalhos em conjunto com o Professor Romero Tori, da Escola Politécnica, e a Professora Maine Skelton, do Departamento de Dentística da FOUSP. Essas novas tecnologias nos apontam para o futuro pedagógico do ensino da Odontologia.
Quais foram os principais desafios na criação do laboratório?
Uma das dificuldades foi mostrar aos colegas que existiam outros locais para a formação do aluno, além das salas teóricas e dos laboratórios multidisciplinares, enfocados apenas no desenvolvimento de habilidades. É um desafio que persiste nos dias de hoje.
Hoje, existem outras universidades que também usam a realidade aumentada na docência?
Não posso afirmar que sim, pois não tenho absoluto conhecimento de todas as instituições, mas o fato é que, mesmo nos congressos de realidade virtual aumentada, não vemos exemplos aplicados à Odontologia, apenas à Medicina.
Recentemente, um expositor de um desses congressos, de uma importante indústria de desenvolvimento de simulações realísticas (clínicas e virtuais), me disse que a Odontologia é um universo ainda desconhecido para eles.
A realidade aumentada pode ser usada também no dia a dia dos consultórios de alguma forma?
Inicialmente, é necessário ainda desenvolvê-la no ensino para depois vermos as possibilidades de utilização no dia a dia do cirurgião-dentista.
O senhor se lembra de algum estudo de caso mais marcante em que a realidade aumentada tenha feito toda a diferença, para exemplificar?
Diversas situações já me foram relatadas por ex-alunos que fizeram intervenções em seus pacientes, em situações que fugiam da rotina, e que conseguiram enfrentá-la e resolvê-la por terem aprendido a fazê-lo no LEME. São exemplos que nos fazem acreditar que o caminho trilhado em 2008 foi o mais correto para a formação desses alunos.
Qual é o futuro da realidade aumentada na Odontologia?
Embora este seja um enorme exercício de futurologia, se olharmos as diferentes aplicações de RVA feitas atualmente em diversas outras áreas, até mesmo no campo do entretenimento, não podemos deixar de acreditar que o futuro está completamente aberto a todas as possibilidades. No Lab.Sim-ODC, estamos desenvolvendo programas para as cirurgias de terceiros molares com professores da Escola Politécnica da USP.
A integração das ciências básicas com as clínicas é outro exemplo para o futuro. Outro exemplo marcante é a contribuição em projetos voltados para a anatomia dentária, desenvolvidos pela Professora Maine Skelton, entre outros.