
Mudanças de hábitos
Você já se perguntou quantos anos tem a sua boca? A pergunta pode parecer curiosa, mas reflete uma preocupação real e crescente entre os profissionais de Odontologia: o envelhecimento precoce da cavidade bucal. A matéria de capa desta edição revela que sinais como desgaste do esmalte, retração gengival e fraturas dentárias têm surgido em pacientes cada vez mais jovens, muitos ainda na casa dos 20 anos. Especialistas apontam que fatores como uso de cigarros eletrônicos, consumo frequente de bebidas ácidas, distúrbios do sono, estresse e até mesmo hábitos de higiene mal-orientados estão acelerando esse processo. É um alerta importante para a prática clínica e para a promoção de saúde bucal em todas as fases da vida.
Ao abordar a chamada Síndrome do Envelhecimento Precoce Bucal, reforçamos na Conexão Odontoprev a necessidade de uma Odontologia preventiva, integrada e consciente. Mais do que restaurar danos, é essencial investigar causas, orientar pacientes e atuar de forma multidisciplinar, considerando aspectos físicos, emocionais e comportamentais. Esta edição propõe uma reflexão sobre o papel do cirurgião-dentista não apenas como agente de tratamento, mas como educador em saúde, capaz de transformar rotinas e garantir que a idade da boca acompanhe a juventude do sorriso.
A mudança da rotina também é um tema levantado na seção OBE desta edição — porém, nesse caso, nos referimos à nossa própria rotina, dentro dos consultórios. No artigo faz-se uma reflexão sobre a real necessidade do uso de antibióticos profiláticos em cirurgias de implantes dentários. A prática tradicional de prescrevê-los de forma rotineira precisa ser revista diante das evidências científicas mais recentes. Não se trata de abandonar a profilaxia, mas de torná-la mais racional. É necessário substituir a postura automática por uma abordagem mais criteriosa, individualizada e baseada na avaliação de risco. Afinal, o verdadeiro progresso na prática clínica não está apenas em incorporar novas tecnologias, mas também em atualizar condutas à luz do conhecimento científico mais sólido — mesmo que isso exija desapegar-se de antigas condutas.
Na seção Pesquisa e Tendências, apresentamos um estudo que demonstrou, em cobaias, a eficácia de um medicamento com ação direcionada à bactéria causadora de doença periodontal, sem prejuízo à microbiota saudável. A edição traz, ainda um artigo sobre a síndrome do dente trincado, acompanhado de um prático infográfico que ajuda a identificar os diferentes tipos de trinca, com base nas definições da American Association of Endodontics.
Completam essa edição uma interessante entrevista sobre o uso de anestésicos em gestantes, que derruba alguns mitos e oferece orientações úteis, e, na seção Gestão de Consultório, sugestões de como transformar os índices de satisfação dos seus pacientes em um motor para o sucesso.
Boa leitura a todos!

Dr. José Maria Benozatti
Diretor Clínico-Operacional do Grupo Odontoprev