AJUDA EXTRA NA

HIGIENE BUCAL

Os enxaguantes bucais fazem parte do dia a dia do consultório e também dos cuidados realizados em casa.
A cirurgiã-dentista Juliane Guerreiro Tanomaru fala do papel dos profissionais na recomendação adequada de seu uso

   O primeiro enxaguante bucal foi formulado em 1879 pelo médico norte-americano Joseph Lawrence e farmacêutico Jordan Lambert. Naquela época, era usado como antisséptico em cirurgias – um dos primeiros médicos a apostar no produto foi o cirurgião inglês Joseph Lister, que acabou sendo homenageado por uma das primeiras marcas do setor. Somente anos depois, o produto começou a ser aplicado também por cirugiões-dentistas para eliminar micro-organismos da boca e, em 1914, chegou às farmácias nos Estados Unidos com a promessa de combater a halitose. Popularizou-se e foi exportado para o mundo todo. Por aqui, surgiu só nos anos 80, mas logo ganhou fama e, hoje em dia, faz parte da rotina de higiene bucal em casa e no consultório. No entanto, a cirurgiã-dentista Juliana Guerreiro Tanomaru, pós-doutora em microbiologia, e professora da Faculdade de Odontologia de Araraquara da Unesp, chama a atenção para o perigo do uso contínuo de tais produtos sem indicação de um profissional. Por essa razão, a especialista, que já participou de três estudos sobre o tema, ressalta o papel do CD nesse processo.

Quais são as opções de enxaguantes bucais disponíveis hoje?

   Existem basicamente dois tipos: os antissépticos terapêuticos, principalmente à base de clorexidina, que possuem agentes antimicrobianos específicos para combater cárie, biofilme dental e doenças periodontais, além de evitar infecção pós-operatória; e os cosméticos, que reduzem ou acabam temporariamente com o mau hálito, deixando na boca um sabor agradável por algum tempo. Quanto ao princípio ativo, os mais comuns são digluconato de clorexidina, cloreto de cetilpiridínio, triclosan e óleos essenciais. O flúor é acrescido em algumas fórmulas, visando à remineralização dos dentes de pacientes com alto risco a cárie e também daqueles que utilizam aparelhos ortodônticos. Além disso, o álcool também é acrescido aos antissépticos bucais para conservar e diluir os princípios ativos. No entanto, vale destacar que o uso contínuo de produtos com mais de 25% de álcool pode aumentar o risco de câncer bucal e de faringe, segundo a American Dental Association (ADA).

Quais os efeitos colaterais mais comuns?

   Alteração do paladar, manchamento dos dentes e de restaurações estéticas e, no caso do álcool, ressecamento e descamação da mucosa bucal, além de afetar as glândulas salivares e causar xerostomia.

Por que ainda existem produtos com álcool na formulação no mercado?

   Acredito que seja por conta do fato de algumas pesquisas sobre o tema não serem conclusivas, ou seja, precisamos de mais provas. Além disso, assim como alguns pacientes adoram usar o enxaguante com frequência, mesmo sem indicação específica, muitos gostam da sensação de ardência provocada pelo álcool por acharem que o produto está de fato “matando os germes”.

Ou seja, cabe aos profissionais reforçar os riscos da automedicação nesse caso?

   Exatamente. Mesmo os produtos naturais podem causar problemas se mal utilizados e, portanto, assim como os demais, necessitam de prescrição de um dentista. Isso sem falar que para cada tipo de problema existe um enxaguante adequado. Se o paciente com queixa de mau hálito comprar um produto por conta própria, sem saber que na verdade a origem do sintoma pode ser gástrica, por exemplo, de nada adiantará. É o cirurgião-dentista quem irá encaminhá-lo a um especialista para resolver de fato a questão.

O enxaguante não substitui a escovação, certo?

   De maneira alguma. O biofilme dental só pode ser removido mecanicamente, isto é, com a escova e o fio dental (ou pelo cirurgião-dentista no consultório, se necessário). O bochecho com antisséptico, portanto, funciona como um coadjuvante da higienização. A exceção, como mostram algumas pesquisas, são os casos em que o paciente não consegue realizar a escovação adequadamente, como aqueles com dificuldades motoras ou recém-operados. Nessa última situação, a dor pode ser um obstáculo.

Para cada tipo de problema existe um enxaguante adequado, que sempre deve ser prescrito por um dentista.

Só para relembrar: quando eles devem ser usados, antes ou depois da escovação?

   Depende da indicação. No consultório, recomenda-se que o paciente faça o bochecho com uma dose de digluconato de clorexidina a 0,12% minutos antes dos procedimentos. Pois, nesse ambiente, o uso do antisséptico tem o objetivo de reduzir a carga microbiana bucal, de modo a diminuir o risco de infecção cruzada. Afinal, não podemos esquecer que o jato aerossol produzido pela caneta de alta rotação atinge até 1 metro de raio. Já a aplicação caseira, quando prescrita pelo CD, costuma ser após a escovação.

Falamos dos pacientes, mas quais os principais erros dos CDs quando o assunto é enxaguante bucal?

   Os antissépticos bucais, em geral, têm sido bem aplicados nos consultórios, uma vez que os conhecimentos na área são bastante sedimentados. Graças, aliás, ao trabalho de profissionais como minha supervisora de pós-doutorado, a Profa.Dra. Izabel Yoko Ito, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, da USP, já falecida, pioneira no estudo de antimicrobianos e biofilmes no Brasil.

As faculdades estão fazendo bem seu trabalho, então?

  Sim! A indicação e a aplicação correta dos enxaguantes bucais é contemplada em diversas disciplinas, que os utilizam antes dos procedimentos. Isso faz parte das normas de biossegurança de nossa faculdade, assim como de disciplinas como cirurgia buco-maxilo-facial e periodontia, devido à correlação do biofilme com a infecção pós-operatória e com doenças periodontais, respectivamente.

Por fim, você poderia comentar as tendências na área?

   Uma delas é o crescente número de enxaguantes à base de óleos essenciais, como eucaliptol, romã, melaleuca e capim-limão. Há cada vez mais estudos que mostram suas propriedades antimicrobianas. O uso deve aumentar, especialmente porque eles não apresentam resistência microbiana e têm efeitos colaterais mais brandos. Outra tendência é a inclusão dos antissépticos na composição dos próprios cremes dentais.

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