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ANTI-INFLAMATÓRIOS PODEM PREJUDICAR O ESMALTE DENTÁRIO EM CRIANÇAS

Estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) sugere relação entre medicamentos e hipomineralização

Doenças infantis e problemas respiratórios já foram associados a defeitos na formação do esmalte dental em crianças. Porém, o efeito de medicamentos anti-inflamatórios nesse resultado ainda é pouco conhecido. Esse fato, somado a um aumento considerável de crianças atendidas com dor, manchas brancas, sensibilidade e fragilidade nos dentes na Clínica do Esmalte Dental, da Universidade de São Paulo (USP), levou um grupo de pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP-USP) e de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP) a investigar melhor a questão. O estudo pré-clínico, cujos resultados foram publicados no periódico científico Scientific Reports, sugere que o uso de anti-inflamatórios na infância pode estar ligado à hipomineralização dental das crianças.

“Observamos que os medicamentos tiveram impacto na formação do esmalte. Embora a olho nu ele não apresentasse defeito, constatamos que havia menor densidade mineral e redução no conteúdo de cálcio e fósforo”, explica o professor Francisco Wanderley Garcia de Paula-Silva, do Departamento de Clínica Infantil da FORP-USP, que coordena o trabalho junto com a professora Alexandra Mussolino de Queiroz e o professor Fabrício Kitazono de Carvalho. “Além disso, toda a sinalização molecular envolvida na formação do esmalte estava diferente do fisiológico, ou seja, da formação normal ocorrida no grupo de controle, que não recebeu os medicamentos”, acrescenta

A análise foi feita em camundongos, visto que os roedores têm incisivos com crescimento contínuo, o que facilita a investigação. Os ratos foram divididos em grupos de controle e grupos que receberam dois medicamentos anti-inflamatórios esteroidais por 28 dias. Depois desse período, foram avaliados os efeitos no processo de formação do esmalte, usando exame visual, microtomografia e análise de composição química e microscópica.

Os efeitos foram identificados na análise pré-química, mas Paula-Silva ressalta que são necessárias mais investigações e a confirmação em humanos para afirmar que o uso de anti-inflamatórios é, de fato, a causa da hipomineralização. “É preciso aguardar novos estudos antes de fazer uma recomendação clínica ou para a população”, afirma. “Mas o resultado acende um alerta para que a comunidade científica avalie mais profundamente os efeitos dos anti-inflamatórios na formação dentária”, diz.

COMO A HIPOMINERALIZAÇÃO AFETA A SAÚDE BUCAL

Entender como os medicamentos – e outros fatores – prejudicam a formação do esmalte dentário em crianças é fundamental, uma vez que essas falhas podem causar prejuízos importantes e duradouros à saúde bucal. “O esmalte sadio é a estrutura mais resistente e mineralizada do corpo humano. Ele possui cerca de 97% de conteúdo mineral”, explica o professor da FORP-USP. Quando há hipomineralização do esmalte, o conteúdo mineral pode ser reduzido consideravelmente, em até 50%.

“A diminuição do conteúdo mineral, em linhas gerais, torna o dente mais frágil e mais poroso, ou seja, mais suscetível a lesões de cárie e a fraturas”, destaca. O dente mais poroso pode causar hipersensibilidade e dor.

“O que vemos, então, é a formação de um ciclo destrutivo: o dente dói porque é mais poroso e a criança não quer escová-lo porque sente dor. Sendo mais poroso, ele corre maior risco de se quebrar, expondo ainda mais os tecidos mais porosos, o que aumenta o risco de incidência de cáries e de hipersensibilidade dentária. Além disso, quando a hipomineralização ocorre nos dentes anteriores, prejudica a estética e a autoestima da criança ou do adolescente”, completa.

Os pesquisadores Fabrício Kitazono de Carvalho, Alexandra Mussolino de Queiroz e Francisco Wanderley Garcia de Paula-Silva
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