Gestão de consultório

Cuidado com a postura

Você já ouviu falar em transtornos osteomusculares? Os diversos problemas, que podem ser causados por posturas inadequadas ou movimentos repetitivos, levam muitos cirurgiões-dentistas a se afastar do trabalho e até abandonar a profissão precocemente. Saiba como evitá-los

Dor e fadiga excessiva nas costas, nos ombros e no pescoço, diminuição da amplitude dos movimentos, sensação de formigamento… Se você percebe que sintomas como estes afetam seu corpo, pode ser que esteja sofrendo com algum transtorno osteomuscular, o que, infelizmente, não é raro em profissionais de Odontologia.

“Tais transtornos podem ser definidos como um grupo de doenças que impactam o sistema musculoesquelético: articulações, músculos, ossos, nervos, vasos sanguíneos, ligamentos, tendões e estruturas de suporte como discos intervertebrais, devido à natureza física ou mentalmente estressante do trabalho”, explica a cirurgiã-dentista Luciana Okajima, coordenadora pedagógica de Odontologia, na faculdade São Leopoldo Mandic.

Na área de atendimento odontológico, o problema impacta a maioria dos profissionais e, em geral, começa cedo. “Estima-se que de 60% a 93% dos cirurgiões-dentistas apresentam algum tipo de transtorno osteomuscular”, aponta a cirurgiã-dentista Júlia Margato Pazos, mestre e doutoranda em ciências odontológicas com ênfase em ergonomia e saúde ocupacional pela Faculdade de Odontologia de Araraquara – Unesp. “Dependendo da severidade, isso pode resultar em perda de dias laborais e, a longo prazo, em abandono precoce da profissão”, afirma. Isso sem falar na baixa qualidade de vida e na insatisfação com o trabalho.

POR QUE OS DENTISTAS?

“O trabalho do cirurgião-dentista pode ser bastante insalubre”, define Luciana. “Quanto mais difícil o procedimento, maior a probabilidade de o profissional realizá-lo em uma postura inadequada, o que contribui para a fadiga”, acrescenta. Ela lembra que muitos profissionais atuam em ambientes não ergonômicos e com iluminação não adequada. “Isso pode afetar não somente a saúde física, mas também a mental”, ressalta.

As desordens são multifatoriais e podem, por exemplo, estar relacionadas com:

  • torção unilateral do tronco;
  • elevada força de apreensão;
  • execução de movimentos repetitivos;
  • estresse;
  • elevada carga muscular;
  • longas jornadas de trabalho;
  • manutenção prolongada de posturas inadequadas.

OS PROBLEMAS MAIS FREQUENTES

Entre os transtornos osteomusculares que mais afetam os profissionais de Odontologia estão os relacionados à coluna vertebral. “São dores musculares, desgaste do disco intervertebral, cifose, lordose e escoliose”, cita Júlia.

“Também há problemas como a síndrome do túnel carpal e a bursite”, completa a cirurgiã-dentista. “A síndrome do túnel carpal, por exemplo, é causada pela compressão do segmento nervoso no interior do túnel osteofibroso e pode se desenvolver pela manutenção de posições inapropriadas do punho, utilização de instrumentos não ergonômicos e carga de trabalho excessiva. A bursite consiste na inflamação das bolsas serosas periarticulares na região do ombro e seu desenvolvimento está associado ao trabalho com os cotovelos elevados por longos períodos”, detalha.

A PREVENÇÃO É O MELHOR CAMINHO

Para evitar o surgimento e o agravamento dos transtornos osteomusculares, a melhor ferramenta é a informação. “A observância da ergonomia e atitudes preventivas devem ser ensinadas o quanto antes nas faculdades para que os estudantes sejam formados com uma mentalidade preventiva”, defende a professora Luciana. Além disso, é fundamenta atentar ao posicionamento ergonômico durante o atendimento, ajustando a cadeira do paciente e o mocho do dentista de maneira adequada, com suporte à região lombar, mantendo a curvatura natural da porção inferior da coluna. “O uso de magnificação também deve ser destacado. A lupa e o microscópio operatório amplificam a visão, diminuindo a fadiga ocular”, diz a professora, que lembra também da importância da boa iluminação e do uso de instrumentos mais leves que ofereçam melhor “pega”.

As pausas regulares, nas quais o cirurgião-dentista se levanta do mocho, se movimenta e faz alguns exercícios de alongamento, também ajudam, afirma Júlia. “A realização de atividades físicas regulares, fortalecimento muscular e alongamento também são essenciais para a manutenção da saúde do dentista”. Sempre que houver algum desconforto, busque ajuda médica.

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