Escaneamento intra-oral

Prof. Flávio Augusto Merichello dos Santos

O uso do escaneamento intra-oral passou a ser uma realidade cada vez mais próxima do clínico geral. Com preços mais acessíveis, os escâneres passaram a ser ferramentas mais presentes em consultórios. O escâner intra-oral oferece velocidade e eficiência no planejamento de um tratamento, tornando possível visualizar o ambiente bucal em perspectiva 3D, com uma maior previsibilidade do resultado final dos procedimentos. O cliente passa a ver com mais clareza o funcionamento do seu sistema mastigatório e a interação entre seus componentes.

Como são obtidas as imagens digitais? O escaneamento é um processo que capta imagens bidimensionais de estruturas físicas através de uma série de fotografias ou filmagens e, depois, utiliza um processamento matemático para os converter estas imagens em arquivos digitais tridimensionais de alta precisão. A captura é feita por diversos ângulos de tomada, o que possibilita a construção da topografia digital tridimensional dos dentes e da gengiva pelo software, com o contorno externo das estruturas.

O escâner é uma ferramenta que, quando bem utilizada, pode gerar enormes facilidades, mas também pode trazer frustações quando sua implementação é mal planejada. Ele não corrige planejamentos errados, preparos mal executados, afastamentos ruins… Ele amplifica e ilustra muito melhor o que temos como informação. Assim, preparos mal executados ficam ainda mais visíveis quando ampliados. Da mesma forma que todo aluno de Odontologia precisa aprender a fazer a moldagem física e entender o que deve ser priorizado na impressão de cada caso, o escaneamento intra-oral exige que o operador respeite as técnicas de leitura, entenda e reproduza fielmente cada estrutura para realizar o objetivo da captura de imagem tridimensional.

O escaneamento é uma técnica sensível e exige uma curva de aprendizado. Se faz necessário o controle da salivação, já que a saliva reflete a luz emitida pelo escâner e atrapalha a leitura. Áreas edêntulas extensas, dentes com mobilidade, restaurações metálicas e sangramentos (principalmente nos dentes preparados para prótese) exigem uma atenção especial.

Atualmente, a qualidade e a definição dos objetos 3D gerados pelos escâneres são muito equivalentes. Cada sistema possui um diferencial pelos softwares agregados e terá uma vocação específica, podendo ser o ponto de decisão na hora da escolha de compra. Existem sistemas específicos para prótese, para confecção de peças em equipamentos de fresagem que funcionam dentro do consultório ou em conjunto com um laboratório. Outros sistemas são específicos para Ortodontia, em que a facilidade de escaneamento das arcadas totais e a simulação de tratamentos ortodônticos podem ser os diferenciais.

Para podermos vislumbrar qual o modelo de utilização desta tecnologia e onde nos encaixamos nela, devemos conhecer as principais vantagens:

Rapidez e precisão dos processos: um operador bem treinado consegue gerar imagens precisas de ambas as arcadas em menos de 10 minutos, assim como a interação oclusal entre elas, de forma precisa e segura. O envio destas imagens também pode ser imediato, o que agiliza e facilita a análise por parte dos outros participantes do processo (laboratório, empresa de alinhadores, etc.).

Conforto ao paciente: reduz náuseas, sensação de afogamento e outros intempéries relacionadas às moldagens físicas.

Conforto ao operador: reduz ou elimina fases do processo de obtenção dos modelos que podem provocar falhas, como distorções por ressecamento ou umidade, inclusão de bolhas, fraturas acidentais ao remover os modelos, armazenamento e demora na retirada dos trabalhos pelo laboratório, além de outros problemas clínicos, como retenção de material de moldagem sob áreas com exostoses ósseas ou implantes, que podem gerar muito desconforto no processo.

Facilidade de armazenamento: o uso de arquivos digitais e a análise virtual dos modelos articulados com precisão reduzem ou eliminam os modelos físicos, que ocupam espaço e aumentam o custo fixo do consultório. Os arquivos digitais podem ser impressos a qualquer momento, se necessário.

Comunicação entre dentista-laboratório-paciente-outros envolvidos no tratamento, como médicos, fonoaudiólogos, outros dentistas: o acesso on-line dos modelos e planejamento virtuais permitem uma comunicação mais eficiente, dando agilidade aos processos. O planejamento pode ser apresentado e discutido entre diferentes profissionais de uma forma virtual, integrando os atendimentos.

Diagnósticos com mais informações: o uso de softwares integrativos permite a possibilidade de agregar informações variadas, combinando a topografia interna e externa do pacientes através de radiografias, tomografias, fotografias e dados do exame clínico, ampliando os dados que podem acessados e averiguados em diversas situações.

Planejamento virtual: as terapias propostas podem ser testadas e avaliadas de forma virtual, sem desconforto ao paciente, tornando os resultados mais previsíveis e compartilháveis, assim como as informações e as tomadas de decisão.

No momento, a forma de utilização mais indicada é com o apoio dos laboratórios de prótese, que passam a disponibilizar diversos equipamentos para seus clientes por consignação ou empréstimo, ou através de um sistema de aluguel. Dessa forma, o profissional tem um primeiro contato com a ferramenta e pode experimentar o trabalho com diferentes modelos de escâner.

Fonte: The Dental Advisor, 2008

É previsto que, em algum momento nos próximos anos, toda clínica odontológica precisará ter um meio de leitura digital dos dentes e das arcadas dos pacientes. A aquisição do escâner intra-oral será um fator preponderante e todos pacientes serão escaneados, para obtenção de registros digitais que servirão para ilustrar as ocorrências, criando um time lapse dos casos. Além disso, a ferramenta traz um ar de modernidade, oferecendo tecnologia e controle das informações ao consultório, o que pode agregar valor à experiência do cliente, passando a ser uma importante ferramenta de venda.

Foto 1: arquivo pessoal, 1999. Sistema CEREC

Foto 2: foto cedida pelo profissonal dentista Thiago França.

REFERÊNCIAS:

  1. A comparison of accuracy of 3 intraoral scanners: A single-blinded in vitro study. Michelinakis, G.; Apostolakis, D.; Tsagarakis, A.; Pavlakis, E. J Prosthet Dent. 2020 Nov;124(5):581-588. doi: 10.1016/j.prosdent.2019.10.023

 

  1. A Comparison of Full Arch Trueness and Precision of Nine Intra-Oral Digital Scanners and Four Lab Digital Escâners. Nulty, A.B. Dent J (Basel), 2021 Jun 23;9(7):75. doi: 10.3390/dj9070075.

 

  1. Influence of operator experience, scanner type, and scan size on 3D scans. Caio César Dias Resende, C.C.D.; Barbosa, T.A.Q.; Moura, G. F.; Tavares, L.N.; Rizzante, F.A.P.; Furat M George, F.M.; Neves, F.D.; Mendonça, G. Prosthet Dent 2021 Feb;125(2):294-299 doi: 10.1016/j.prosdent.2019.12.011.
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