Fechamento de diastema anteriores: Orientações Práticas

Prof. Dr. Flávio Merichello

Coordenador do curso de Excelência em Estética da FFO – Fundecto USP

A utilização de resinas compostas para restaurações em dentes anteriores é uma técnica consagrada na Odontologia atual. Através de um padrão técnico estabelecido, restaura-se de forma rápida, duradoura e efetiva as estruturas dentais perdidas por cáries ou fraturas, devolvendo forma e função ao elemento dentário. A extrapolação desta técnica permite ao dentista acrescer, modificar e transformar de forma estética os dentes que, porventura, tenham forma, cor ou posicionamento alterados no arco.

Apesar das mudanças de padrão estético, onde os diastemas passam a ser considerados interessantes, a técnica de fechamento de diastemas para dentes anteriores com resina é largamente difundida no meio odontológico e frequentemente solicitada pelos pacientes. Serve como poderosa ferramenta para o alinhamento estético dos dentes, atuando, algumas vezes, de forma complementar aos tratamentos ortodônticos.

Porém, para que possamos estabelecer um protocolo restaurador, teremos que fazer algumas considerações prévias:

  • Avaliar a possibilidade de tratamento ortodôntico para a correção do espaçamento dos dentes;
  • Avaliar a presença do freio labial superior e a necessidade de sua remoção cirúrgica antes do processo restaurador;
  • Mensurar o espaçamento entre os dentes para a escolha da estratégia restauradora;
  • Análise criteriosa da cor e forma dos dentes envolvidos.

Feitas estas considerações e elencada a técnica restauradora direta como opção, deveremos aplicar uma técnica adesiva para a fixação da restauração.

Iniciamos com a colocação sub-gengival de um fio retrator do tipo 00 ou 000 nos dentes que serão restaurados, para proteção dos tecidos gengivais adjacentes, servindo como uma barreira mecânica para o fluído gengival. Após o término do processo restaurador, e somente após o termino, remove-se o fio introduzido.

Por se tratar geralmente de uma restauração de acréscimo (sem cavitação), onde atuaremos normalmente sobre esmalte hígido, recomenda-se um desgaste mínimo superficial da estrutura do esmalte com uma ponta diamantada de granulação extrafina (FF). Esta ação facilita o processo de condicionamento do esmalte e melhora a adesão entre dente e resina.

Como estamos atuando sobre esmalte, a técnica adesiva tradicional “condiciona e lave” é a mais recomendada para este tipo de restauração. Assim, utilizaremos o condicionamento com ácido fosfórico a 37% sobre o esmalte por 15 a 30 segundos, lavagem com ar e água por 30 segundos, secagem abundante e aplicação de adesivo, que será em seguida fotoativado pelo tempo indicado pelo fabricante.

Nos casos de menor espaçamento entre os dentes, poderemos fazer a aplicação direta da resina sem a utilização de uma barreira palatina. A escolha da cor deve ser feita com uma pequena porção do material sobre o dente, pois a escala VITA é apenas uma referência e foi criada para a escolha de cor de cerâmicas dentais. Como a quantidade de resina composta a ser utilizada nestes casos é pequena, recomenda-se usar uma resina de corpo (body), com apenas uma cor. Devemos lembrar que as resinas de corpo ou universais possuem uma opacidade intermediária entre a opaca ou dentina e a resina de esmalte. O uso de espátulas finas garante uma melhor inserção do material, assim como o uso de pincéis adequados proporcionam um melhor espalhamento, o que facilita a textura, o acabamento e o polimento do material restaurador.

Perante às dificuldades técnicas restauradoras dos casos onde existam espaçamentos maiores que 3 mm entre os dentes anteriores, recomenda-se a utilização de um suporte ou barreira palatina. Esta barreira direciona e estabelece os limites externos da restauração e serve como referência para a linha mediana. Assim, um planejamento restaurador auxiliado por modelos de estudo, associado ao enceramento diagnóstico e a constituição de uma barreira palatina possibilitam uma maior previsibilidade e controle do processo restaurador. O suporte palatino pode ser executado com o auxílio de uma guia de silicone de adição ou condensação, obtido pela cópia do enceramento diagnóstico realizado nos modelos.

A constituição de uma concha palatina com uma resina de alta translucidez serve como referência para o restante da restauração. Esta técnica permite uma maior segurança no estabelecimento da linha mediana e da proporção entre os dentes, respeitando a proporção áurea dos dentes. Sobre esta camada translúcida aplica-se uma pequena camada de resina opaca, que servirá de bloqueio para a passagem da luz. Este é um ponto crítico, pois se exceder a quantidade de material opaco, a cor da restauração fica inadequada e se colocar muito pouco, pode ficar escura. Como camada final, aplica-se uma resina de corpo com um croma abaixo do opaco utilizado. Assim, se usarmos uma resina dentina A3 ou OA3 devemos usar uma resina de corpo BA2 ou A2.

Uma atenção especial deve ser dada ao arcabouço gengival, pois a estética gengival é crucial para a recomposição estética. Quanto maior os espaçamentos entre os dentes, maiores os riscos de formação de espaços negros (black spaces) nas porções próximas à gengiva. Outro problema comum é o excesso de tecido gengival, que impede a adequada angulação de emergência da restauração.

Assim, devemos avaliar a quantidade de papila da região (ausência total, parcial ou excesso gengival), o biotipo gengival (espessa, mista ou friável) e o posicionamento do tecido ósseo devem ser avaliados. Para a recomposição ou manutenção da papila gengival, preconiza-se que posicionamento do ponto de contato entre os dentes restaurados deva estar à 5 mm da crista óssea. É muito importante a sondagem prévia do periodonto para determinação do posicionamento da crista e assim como uma radiografia periapical complementar.

Rolar para cima