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Técnicas cirúrgicas para realização da frenectomia e frenotomia

Luciane Hiramatsu Azevedo, cirurgiã-dentista, pesquisadora do Laboratório Especial de Laser em Odontologia do Departamento de Dentística da FOUSP, doutora em diagnóstico bucal, especialista em odontopediatria e estomatologia, professora da pós-graduação de Lasers em Odontologia e de Habilitação Lasers em Odontologia da FOUSP; professora da Fundação Faculdade de Odontologia (FFO) e mestre em ciências na área de Tecnologia Nuclear pelo IPEN.

Jorge Abrão

O procedimento cirúrgico para a remoção total ou parcial de freios e frênulos (labiais e lingual) é denominado frenectomia ou frenotomia. A frenectomia é uma técnica mais invasiva quando comparada à frenotomia, pois envolve a remoção completa ou parte significativa do frênulo. Já a frenotomia é um procedimento menos invasivo, uma vez que a incisão realizada no tecido tem por objetivo apenas aliviar sua tensão.

Em resumo, a principal diferença entre as duas técnicas cirúrgicas está na extensão da intervenção. A indicação cirúrgica, bem como a escolha da técnica dependerá da avaliação do profissional que deverá observar a limitação funcional diante das necessidades específicas do paciente.

Entende-se que a língua precisa estar posicionada corretamente e livre para realização das suas funções, pois é responsável pela deglutição, respiração, fala e também pelo desenvolvimento da maxila e mandíbula. No repouso, a língua normalmente fica posicionada acoplada no palato, o que permite termos o vedamento labial. A anquiloglossia (“língua presa”) é uma alteração deste equilíbrio. Sempre que presente, a língua  poderá não ser capaz de ocupar sua posição fisiológica,  causando um desequilíbrio muscular.

A anquiloglossia também pode gerar dificuldade na amamentação, que tem um papel importante no estímulo ao desenvolvimento anteroposterior da mandíbula. A língua na posição adequada estimula a articulação intermaxilar durante a execução das funções de deglutição, sucção e mastigação, o que contribui para o desenvolvimento do sistema estomatognático; quando não bem-posicionada leva ao déficit de crescimento dos ossos da face, o que acarreta as má-oclusões, problemas na fala e no desenvolvimento da via aérea superior, aumentando o risco de apresentar distúrbio obstrutivo do sono e ronco.

Figura 1 – Bebê com anquiloglossia (língua presa) – 1 mês de idade

O freio labial apresenta a função de estabilizar o lábio superior e limitar seu movimento excessivo. Atualmente apresenta indicação cirúrgica em situações específicas como: retração gengival, diastema patológico, razões ortodônticas, indicação fonoaudiológica, estética, retenção de alimentos, e quando atrapalha a retenção de próteses ou aparelhos removíveis. Estudos mostram que não há relação entre a morfologia do frênulo labial superior e a dificuldade de amamentação, e que sua liberação é questionável atualmente, necessitando de estudos clínicos randomizados.

Figura 2 – Freio labial patológico – adolescente de 13 anos

Quanto às cirurgias, pode-se realizar a técnica convencional com o uso de tesouras e/ou lâminas cirúrgicas, bisturis elétricos/eletrocautério ou o uso dos lasers de alta potência, podendo ser utilizadas em conjunto.

Após anamnese, o passo a passo das cirurgias consiste em:

  • Anestesia: o paciente é anestesiado localmente para evitar dor durante o procedimento. Há relatos de cirurgias com laser de érbio que não foi necessária a anestesia infiltrativa, somente tópica (pomada anestésica), porém, devemos ter atenção a pacientes bebês e pediátricos.
  • Preparação: o cirurgião realiza a desinfecção da área ao redor do freio a ser removido e coloca um campo estéril para evitar infecções.
  • Incisão: o cirurgião faz uma incisão na base do freio para separá-lo dos tecidos circundantes. Isso pode ser feito com um bisturi convencional ou elétrico ou um laser cirúrgico, dependendo da preferência do profissional e das necessidades do paciente.
  • Remoção ou modificação: após a incisão, o freio é cuidadosamente removido ou modificado de acordo com a finalidade da cirurgia. Em alguns casos, apenas uma parte do freio é removida, enquanto em outros, ele pode ser totalmente eliminado.
  • Sutura (pontos): após a remoção ou modificação do freio, o cirurgião sutura a incisão. Podemos não suturar alguns casos quando utilizamos os lasers de alta potência, por exemplo.
  • Cuidados pós-operatórios: o paciente é instruído sobre os cuidados pós-operatórios, que podem incluir a aplicação de compressas geladas, evitar alimentos duros ou quentes por um tempo e seguir um regime de higiene bucal especial para evitar infecções.

A reparação tecidual geralmente leva algumas semanas, e é importante seguir as orientações do profissional de saúde para garantir uma recuperação adequada. A frenectomia ou frenotomia é geralmente um procedimento seguro e eficaz que pode melhorar a função oral e a saúde bucal em pacientes com problemas relacionados aos freios labiais e linguais.

Figura 3 – O uso do laser de diodo de alta potência (980nm) para a realização da frenectomia em paciente adolescente

Resultados clínicos bem-sucedidos usando vários tipos de lasers de alta potência para realização de procedimentos cirúrgicos em tecidos moles orais estão descritos na literatura. Há relatos e estudos clínicos utilizando lasers de neodímio, érbio, CO2 e diodos para cirurgias dos freios orais.

Além disso, vários autores relataram o benefício do uso do laser para a realização de frenectomia oral, como por exemplo, hemostasia, menor tempo operatório, ou diminuição da dor pós-operatória. No entanto, neste momento há muitas discussões sobre seus benefícios, comprimentos de onda dos lasers, assim como parâmetros ideais para sua aplicação clínica.

Independentemente da técnica utilizada, a frenectomia ou frenotomia deve ser realizada por um profissional de saúde habilitado, treinado e qualificado. O tipo de cirurgia a ser realizada dependerá das características específicas do freio, da idade do paciente e das considerações clínicas/saúde individuais, além da expertise do próprio cirurgião. É importante discutir as opções com um profissional de saúde para determinar a técnica mais apropriada para cada caso.

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