Gengiva à mostra?

Entenda as causas e as vantagens e desvantagens dos principais tratamentos para amenizar o sorriso gengival

O excesso de exposição da gengiva, comumente chamado de sorriso gengival, é uma condição presente em 10% da população mundial entre 20 e 30 anos. A literatura mostra que a maioria dessas pessoas são mulheres, em uma proporção de duas para cada homem. Em geral, essa questão não traz grandes complicações clínicas, mas nem por isso deve ser ignorada, salienta o cirurgião-dentista Mario Cappellette Junior, professor do Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da Associação Brasileira de Odontologia – Seção São Paulo. De acordo com o especialista em Ortodontia, as causas do sorriso gengival são diversas e os principais tratamentos envolvem cirurgias plásticas simples. Mais recentemente, a toxina botulínica tem sido usada para amenizar essa condição, agindo no controle da força do lábio superior. Para identificar a melhor abordagem, é fundamental fazer um diagnóstico preciso, com análise de todos os elementos da face, e entender as necessidades do paciente. Confira a entrevista completa sobre as últimas novidades na abordagem dessa condição bucal.

O que caracteriza o sorriso gengival?

O sorriso gengival varia de uma pessoa para outra e se caracteriza pela exposição exagerada da gengiva superior. Apesar de não ser danoso à saúde bucal, em alguns pacientes pode gerar desconforto estético e comprometer a harmonia facial. Existem variações na exposição gengival entre homens e mulheres, mas nas mulheres ela pode ser ligeiramente mais acentuada.

Além da questão estética, existe algum problema funcional envolvido?

Quando a causa é um transtorno do desenvolvimento dos maxilares com excesso vertical de maxila, o sorriso gengival é um sinal de uma alteração mais complexa que pode levar a alterações funcionais do sistema respiratório e do sistema estomatognático.

E quais são as causas por trás dessa condição?

As causas são multifatoriais, mas a genética pode ser apontada como uma das principais. Isso porque a direção de crescimento da face define o padrão facial, então, quando há uma tendência de crescimento para o sentido vertical, o excesso pode resultar em um sorriso gengival. Ele também pode estar relacionado a fatores musculares, como hiperatividade labial, e dentários, como coroas dentárias curtas, extrusão dentoalveolar ou gengivodentais. Há ainda a possibilidade de acontecer uma combinação entre esses fatores, como a musculatura hipercinética dos lábios elevadores (ou seja, quando os músculos são muito fortes), falta de proporção entre dentes e gengiva e hipertrofia gengival.

Quais as técnicas de cirurgia plástica gengival mais comuns para contornar a questão atualmente?

As mais utilizadas ainda são a gengivectomia e a gengivoplastia. A escolha da técnica dependerá da realização do diagnóstico correto por um profissional. São procedimentos simples, que consistem na remoção do excesso de tecido gengival e, em alguns casos, existe a necessidade de intervenção também em tecido ósseo. Considerando que muitas vezes a motivação do paciente na busca pelo tratamento é estética, vale destacar que esses procedimentos cirúrgicos não deixam cicatrizes.

O que o cirurgião-dentista precisa saber para abordar o sorriso gengival?

Para um bom diagnóstico, é essencial avaliar a proporção facial com base em uma análise da face, dos lábios (estática versus dinâmica), do descanso labial, da proporção dentária, da avaliação periodontal, da anatomia muscular de elevadores de lábio, do elevador de lábio superior e da asa do nariz, e dos músculos zigomáticos maior e menor.

Em que casos a cirurgia de reposicionamento labial é indicada?

A marca de um “sorriso ideal” é a exposição de toda a extensão dos dentes superiores com a mostra de aproximadamente entre 1 mm e 3 mm da gengiva. A cirurgia de reposicionamento labial pode ser usada para tratar a exposição gengival excessiva quando suas causas são comprimento do lábio curto e/ou atividade labial hipermóvel ou hiperativa.

Quais são as vantagens e desvantagens desse tipo de abordagem?

Os prós baseiam-se na simplicidade da técnica cirúrgica, com bons resultados estéticos e funcionais. Os contras são os maus resultados, quando essa técnica é aplicada para outros fatores causadores, como o excesso vertical de maxila. Nesse caso, a melhor técnica seria a cirurgia ortognática para a impacção maxilar.

Quando a toxina botulínica para correção do sorriso gengival pode ser útil?

A toxina botulínica é empregada para reduzir a força da musculatura, impedindo que o lábio superior seja erguido no momento do sorriso e ocorra o excesso de exposição da gengiva. No entanto, o excesso de toxina botulínica pode travar a mímica do sorriso e alterar a estética. Quando bem executada, essa abordagem pode ajudar até no selamento labial em casos de desproporções maxilomandibulares. A aplicação da toxina botulínica deve ser realizada com intervalos de 3 a 6 meses, com variações de um indivíduo para outro. Por isso, é importante que o profissional comunique essa necessidade ao paciente.

Por último, a associação de facetas e lentes de contato dentais ajudam na resolução do problema?

O procedimento tem de ser muito bem avaliado para ser indicado, e o diagnóstico adequado para a recomendação deve ser bastante preciso, já que envolve desgaste nos dentes naturais do paciente. A manutenção das facetas ou lentes de contato se torna permanente, portanto não creio que esta esteja entre as melhores opções para a solução do sorriso gengival.

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