Pesquisa e Tendências

Inovação no tratamento de

PERIODONTITE EM DIABÉTICOS

Pesquisa brasileira aposta na combinação de ômega-3 e aspirina com resultados animadores

Sangramento da gengiva, mau hálito e até mesmo perda de dentes. Em sua forma mais severa, a periodontite acomete cerca de 11% da população adulta mundial. A má higiene bucal está associada ao desenvolvimento e à progressão da doença periodontal. Mas o problema é mais comum e grave em pacientes com diabetes tipo 2.

“Trata-se da sexta complicação mais vista nesse grupo, no qual a prevalência chega a 32%”, explica a cirurgiã-dentista Nidia Cristina Castro dos Santos, professora de pós-graduação da Universidade Guarulhos. Isso porque, de acordo com ela, o alto nível de açúcar no sangue gera um processo inflamatório crônico no organismo, incluindo a cavidade bucal. Para piorar, uma vez inflamada, a gengiva libera substâncias que interferem no metabolismo da glicose.

Um tratamento inovador avaliado por Nidia e colaboradores, no entanto, pode melhorar essas estatísticas. Em sua tese de doutorado pelo Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, orientada por Mauro Pedrine Santamaria, o grupo comprovou que a combinação de suplementos de ômega-3 (óleo de peixe) e comprimidos de aspirina, associada ao tratamento convencional da periodontite, pode melhorar não só a resposta clínica como também o controle do diabetes. Publicada este ano no Journal of Periodontology, a pesquisa recebeu o apoio da Fapesp e do National Institute of Dental and Craniofacial Research/NIH (Estados Unidos).

GORDURA DO BEM

Os benefícios do ômega-3 no combate à periodontite já haviam sido observados anteriormente em estudos realizados no Forsyth Institute, afiliado àa Universidade de Harvard, onde Nidia fez parte de seu doutoramento. “O ômega-3 ajuda o organismo a produzir lipídios que melhoram a resposta inflamatória. Já a aspirina, funciona como um potencializador”, resume a pesquisadora.

No experimento, 75 pacientes com periodontite (de moderada a severa, generalizada) e diabetes tipo 2 foram divididos em três grupos. O primeiro, de controle, foi apenas submetido a uma raspagem mecânica (debridamento) e placebo. O segundo, além da raspagem, recebeu uma combinação de 3 gramas de óleo de peixe e 100 miligramas de aspirina ao longo de dois meses depois do procedimento. O terceiro, por sua vez, ingeriu a mesma combinação pelo mesmo intervalo antes do debridamento.

Os dois grupos que tomaram a combinação tiveram resultados melhores do que os do primeiro. Mas no segundo grupo, que a ingeriu após a raspagem, a taxa de sucesso do tratamento foi de 40%, contra 16% do grupo de controle. “Também se observou um impacto positivo sobre a glicemia e os níveis de citocinas proinflamatórias no fluido gengival desses pacientes”, diz. Para ela, outras vantagens desse protocolo seriam o baixo custo e os poucos efeitos colaterais, o que o torna promissor para a saúde pública.

REFERÊNCIAS

1. Castro dos Santos NC, Andere NMRB, Araujo CF, de Marco AC, Kantarci A, Van Dyke TE, Santamaria MP. Omega‐3 PUFA and aspirin as adjuncts to periodontal debridement in patients with periodontitis and type 2 diabetes mellitus: randomized clinical trial. J Periodontol. 2020;1–10. doi: 10.1002/JPER.19-0613.

2. Kassebaum NJ, Bernabé E, Dahiya M, Bhandari B, Murray CJL, Marcenes W. Global burden of severe periodontitis in 1990–2010: a systematic review and meta-regression. J Dent Res. 2014;93(11):1045–53. doi: 10.1177/0022034514552491.

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