Laserterapia: uma opção terapêutica para o tratamento das DTMs

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O conceito de disfunção temporomandibular (DTM) vai além de um problema somente da articulação temporomandibular (ATM), pois é definida pela Associação Americana de Dor Orofacial como sendo uma patologia que acomete a ATM, os músculos mastigadores e estruturas associadas. Apresenta, ainda, etiologia multifatorial, que pode ser explicada melhor pelo modelo biopsicossocial, ou seja, características genéticas se expressam nas atividades fisiológicas (bio), no perfil psiquiátrico e psicológico (psico) que também sofrem influências sociais, isto é, de fatores ambientais, culturais, físicos e demográficos.

Estudos populacionais de prevalência de DTM em brasileiros, anteriores à pandemia de Covid-19, apontam que cerca de 39% da população apresenta pelo menos um sintoma de DTM. No entanto, devido à mudança de comportamento ocasionada no período da pandemia, acredita-se que a prevalência tenha aumentado, assim como a procura pelo tratamento dessa patologia.

Muitos são os sinais e sintomas que caracterizam as DTMs. Entre eles podemos ressaltar: dor articular, dor muscular crânio-orofacial e cervical, cefaleia, desgaste dentário, limitação e dificuldade nos movimentos mandibulares, desvios da linha média na abertura e/ou fechamento bucal, limitações das funções do sistema estomatognático, sons articulares (estalidos, crepitação), zumbido ou surdez passageira (plenitude), assimetria facial, dor atrás dos olhos, histórico de travamento bucal aberto ou fechado e alteração no sono. Esses sintomas isolados ou em conjunto podem aparecer em um mesmo paciente, ocasionando sofrimento e diminuição na qualidade de vida.

O diagnóstico é feito, principalmente, por meio de um abrangente exame físico e anamnese. No entanto, em alguns casos são necessários exames complementares de imagem como as radiografias, tomografias e ressonâncias magnéticas.

A indicação do melhor tratamento varia de acordo com o tipo de DTM apresentado, os anseios do paciente, o conhecimento e a habilidade técnica do profissional e as melhores evidências científicas disponíveis (Figura 1). Entretanto, cabe ressaltar que é unanimidade entre a comunidade científica que o tratamento deve ser iniciado por terapias não invasivas e reversíveis, deixando os procedimentos somente para os casos em que não houve êxito nos tratamentos anteriores.

Várias são as opções de tratamentos não invasivos existentes na literatura; entre elas, temos: acupuntura, terapia cognitivo-comportamental, técnicas fisioterápicas, terapia farmacológica, neuroestimulação elétrica transcutânea (tens), ultrassom, terapia de fotobiomodulação (TFBM), dispositivos interoclusais, hipnose e psicoterapia etc. Essas opções podem ser utilizadas de forma isolada ou em associação.

Entre as alternativas terapêuticas, podemos destacar a TFBM, que utiliza a luz laser para obter os efeitos terapêuticos almejados. Laser é um acrônimo do inglês Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation (amplificação da luz por emissão estimulada de radiação), e os efeitos terapêuticos do laser são obtidos por meio da sua interação com os tecidos biológicos. Essa interação produz efeitos fotoquímicos, fotofísicos e fotobiológicos que resultam nos desejados efeitos de analgesia, modulação da inflamação e reparação tecidual.

O laser terapêutico é produzido por um equipamento de baixa potência que não ocasiona dano celular, não possui potencial carcinogênico, nem produz efeito térmico. Existem muitas vantagens em se adotar a laserterapia no cuidado das DTMs, pois não é invasiva, não apresenta efeitos colaterais conhecidos, não possui interação com a maioria dos medicamentos, tem baixa complexidade, é bem aceita entre os pacientes e é considerada uma terapia segura, desde que sejam observados os procedimentos de segurança para o paciente e para o profissional.

Para a obtenção de sucesso na laserterapia, é importante que sejam observados os seguintes aspectos: adotar um protocolo já testado com parâmetros confiáveis e seguros, utilizar os dispositivos de segurança para irradiação, aplicar o laser somente em áreas “higienizadas” e fazer a aferição do equipamento regularmente.

Recentes resultados de um ensaio clínico controlado triplo-cego conduzido no Laboratório Especial de Lasers em Odontologia na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo apontam aumento na abertura bucal, diminuição no número de pontos dolorosos e no nível de dor após a utilização da terapia com laser de baixa potência em pacientes com DTM (Figura 2). Portanto, os cirurgiões-dentistas que estão envolvidos no tratamento das DTMs devem considerar a laserterapia como uma alternativa terapêutica.

Figura 1: Variáveis para a adoção do melhor tratamento.
Figura 2: Resultados obtidos com a laserterapia para DTM.5

BIBLIOGRAFIA:

1. Differential diagnosis and management of TMDs. In: De Leeuw R, Klasser G (Eds.). Orofacial pain: guidelines for assessment, diagnosis, and management (American Academy of Orofacial Pain). 6 ed. Batavia: Quintessence Publishing Co; 2018.

2. Minervini G, Franco R, Marrapodi MM, Mehta V, Fiorillo L, Badnjevic A, Cervino G, Cicciù M. The association between COVID-19 related anxiety, stress, depression, temporomandibular disorders, and headaches from childhood to adulthood: a systematic review. Brain Sci. 2023;13(3):481.

3. Okeson JP. Tratamento das desordens temporomandibulares e oclusão. 7 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013.

4. Gonçalves DA, Dal Fabbro AL, Campos JA, Bigal ME, Speciali JG. Symptoms of temporomandibular disorders in the population: an epidemiological study. J Orofac Pain. 2010 Summer;24(3):270-8. PMID: 20664828.

5. Freitas PM, Simoes A (Eds.). Lasers in dentistry: guide for clinical practice. Hoboken: John Wiley & Sons; 2015.

6. Carvalho FR, Barros RQ, Gonçalves AS, Muragaki SP, Pedroni ACF, Oliveira KDCM, Freitas PM. Photobiomodulation therapy on the palliative care of temporomandibular disorder and orofacial/cervical skull pain: preliminary results from a randomized controlled clinical trial. Healthcare (Basel). 2023;11(18):2574.

Prof. Dra Mariana Aparecida Brozoski

Professora doutora de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Vice coordenadora do Programa de Residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital Universitário HU – USP

Prof. Dr Daniel Falbo Martins de Souza

Coordenador do Núcleo de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital Samaritano Paulista. Diretor do Centro de Treinamento Internacional IBRA no Hospital Samaritano Higienópolis

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