Alinhadores e fluxo digital em ortodontia
Lentes de contato dental
Renato Carlos Burger, PhD, DDS, MS, Professor e coordenador de pós-graduações de Dentística e Implantodontia na FAIPE (Cuiabá), ESO (São Paulo) e FACESC (Chapecó), especialista em Harmonização Orofacial.
José Carlos Pettorossi Imparato, Bruna Lorena Pereira Moro
Lentes de contato dentais e facetas são também denominadas de laminados. As facetas foram introduzidas como procedimento restaurador no início da década de 1980 e necessitam de um preparo cavitário que resulte em uma espessura da peça de 0,5 – 0,7 mm dependendo do escurecimento do dente1. Já o termo “lentes de contato” surgiu no início do ano 2000 devido ao desenvolvimento tecnológico das cerâmicas que permitiram peças com espessuras em torno de 0,2 mm e que teoricamente não necessitavam de preparo cavitário 3,4 (Figura 1).
O termo lente de contato dental faz uma analogia à lente de contato ocular no que concerne a sua espessura. Sendo tão fina não se percebe a mesma posicionada sobre a íris. O mesmo conceito se aplica à odontologia. Essa lente de contato dental seria tão fina que não se perceberia a mesma sobre o dente ao sorrir. As lentes de contato oculares transparentes têm espessura em torno de 0,06 mm, enquanto as lentes com cores (para modificar a tonalidade dos olhos) apresentam espessuras em torno de 0,1 mm, ou seja, mais espessas.
Por ser tão fina a lente de contato dental, ela não consegue alterar a cor do dente, mas somente a sua forma, o que é sua principal indicação. Para atingir a mudança de cor, ela necessita de espessura, tal qual a lente de contato ocular, e conceitualmente passaria a se chamar faceta e não mais lente. Portanto, alteração de cor necessita espessura da peça.
Por serem muito finas, quando introduzidas no mercado, não se preconizava nenhum tipo de preparo, o era uma vantagem da técnica3. Porém, hoje é possível entender que um mínimo de desgaste localizado é necessário para atingir os requisitos de estabilidade durante a prova e adaptação, principalmente, no terço cervical, evitando sobre contorno com prejuízo biológico à gengiva 2 (Figuras 2 e 3).
Esse conceito de desgaste mínimo ou como prefiro chamar de suficientemente invasivo (para se obter uma peça com forma, função e estética correta) é valido quando se emprega o material estético cerâmico produzido em laboratórios de prótese em técnica dita indireta. A opção pela lente de contato em resina na técnica indireta não é comum pela superioridade da cerâmica.
Quando se emprega a resina composta como material restaurador, a situação muda de figura. Uma vez que esse material é aplicado diretamente sobre o dente (técnica direta) com controle do profissional, muitas vezes, o preparo cavitário não é necessário, principalmente em casos onde procura-se modificar somente a forma do dente. Em contrapartida, em casos de escurecimento severo também é imprescindível um desgaste dental para se obter o resultado estético necessário (Figuras 4A e 4B).
Quando comparamos as lentes de contato de cerâmica com as de resina verificamos prós e contras em cada técnica. Dessa maneira, a decisão profissional sobre uma ou outra técnica é baseada em sua experiência e preferência associada a disponibilidade financeira do paciente.
As lentes de contato em cerâmica têm uma longevidade maior, estabilidade química e de cor superiores, além de custo maior. Já as lentes de contato em resina podem ser executadas em uma sessão única, são de reparo fácil, tem um custo menor e são mais amigáveis ao profissional no manuseio.
A busca pela estética perfeita sempre permeou o ser humano e a sua exigência pelo resultado é muito grande. O aprimoramento dos materiais estéticos resulta em tratamentos com mudança do sorriso cada vez mais incríveis associados a um profissional capacitado.
Porém percebe-se hoje uma tendência de tratamento baseado na mídia e na moda em detrimento da sua real indicação. Não podemos esquecer que a promoção da saúde do nosso paciente é o nosso principal foco e soberano a qualquer tipo de expectativa criada em relação e esse tipo de tratamento.
1. Horn, H. R. A new lamination: porcelain bonded to enamel. N.Y.S. (Dental Journal), p. 401-3, 1983.
2. Clavijo V, Kabbacha W. Fragmentos e Lentes de Contato- Detalhes que fazem a diferença- Treine seus olhos. Clinica- International Journal of Brazilian Dentistry- v. 9, n. 3, p. 252-258m julho/set 2013.
3. Malcmacher, L. No-preparation porcelain veneers. Dent Today, v.22, n.4, p. 66-71. Apr 2003.
4. Nash, W. R. The contact lens porcelain veneer. Dent Today, v.22, n.5, p.56-9. May 2003.