O caminho entre prótese dentária e biossegurança

O especialista e doutor em prótese dentária Celso Tanaka reforça a importância da desinfecção de moldes e modelos para evitar doenças

Seja para confeccionar uma prótese, seja para clarear os dentes, os moldes servem para o cirurgião-dentista obter um modelo da arcada dentária de forma minuciosa. Em posse do material, é possível que o profissional consiga planejar o tratamento adequado para o paciente. No entanto, para que isso aconteça, o processo de desinfecção é fundamental para evitar contaminações cruzadas e outros problemas para ambos durante o atendimento.


O tema é fruto de pesquisas do especialista em prótese dentária Celso Tanaka, integrante da Câmara Técnica de Prótese Dentária do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp), e também já foi abordado em diversos manuais de biossegurança. “É importante que o profissional manuseie o material e as próteses da maneira mais asséptica possível, sem se esquecer de utilizar corretamente todos os equipamentos de proteção individual e da equipe”.

Existe algum protocolo para a desinfecção de moldes em Odontologia?

Sim. Já existe há um bom tempo. Desde a década de 80, quando surgiram os primeiros casos de HIV, todos os procedimentos clínicos e laboratoriais sofreram adequações no processo de descontaminação. Foi uma mudança muito significativa: os profissionais passaram a trabalhar com procedimentos mais rígidos de biossegurança. Além da desinfecção, também falamos em esterilização, que é fundamental, principalmente em instrumentos que vão para a boca do paciente. Atualmente, o mais comum é a esterilização em autoclave.

Quais são os métodos existentes?

A escolha do material para a desinfecção deve ser bem avaliada, para não causar alteração dimensional no molde e, consequentemente, no modelo. Existem várias soluções que podem ser utilizadas para esse fim. As principais são: hipoclorito de sódio 1%, ácido peracético 1%, clorexidina 0,2% e peróxido de hidrogênio 3% associado com quaternário de amônia.

A escolha do material para desinfecção deve ser avaliada para não causar alteração dimensional no molde e, consequentemente, no modelo”

Existe uma solução específica para cada molde? Qual é a melhor maneira de higienizá-los?

Os moldes de silicone por condensação ou adição, polissulfeto e mercaptanas podem ser desinfetados por hipoclorito de sódio 1% ou ácido peracético 1%. Depois de removido da boca, o molde deve ser lavado em água corrente para remover resíduos orgânicos, secado com papel absorvente – e não com ar da seringa tríplice – e imerso, por dez minutos, em um recipiente com tampa que contenha a solução. Em seguida, o molde deve ser lavado novamente em água corrente, secado com papel e preenchido com gesso. Uma vez realizado o procedimento, a solução deve ser descartada.

Já os moldes de alginato, após serem lavados, devem ser borrifados com a solução de hipoclorito 1%, envoltos com uma gaze – ou papel umedecido com a solução – e colocados em um recipiente com tampa por 10 minutos. Depois desse tempo, devem ser lavados e secados com papel para serem preenchidos com o gesso escolhido de acordo com a necessidade.

Os modelos de gesso devem ser imersos em um recipiente plástico contendo hipoclorito 1% por um período de 10 minutos.

As próteses com ou sem metal devem ser imersas em um recipiente contendo ácido peracético 1% ou clorexidina 0,2%, e lavadas para, então, serem provadas. As próteses totais ou removíveis devem ser desinfetadas com hipoclorito de sódio 1%, imersas em um recipiente com tampa e, depois, lavadas, antes de serem levadas à boca do paciente.

Para o gral de borracha, espátula de gesso ou alginato, articulador e seus componentes devem ser desinfetados com hipoclorito de sódio 1%, ácido peracético 1% ou álcool 70%. É importante ressaltar que a forquilha do arco facial precisa ser esterilizada em autoclave.

Por último, a caixa de transporte de moldes deve ser de plástico ou de papelão, materiais que também permitem desinfecção. É importante ressaltar que o ácido peracético 1% é um excelente desinfetante, porém, deve ser manuseado com extrema cautela para não causar lesões graves por contato.

O risco de contaminação cruzada é relevante?

Sim. Por isso, é importante tomar muito cuidado no consultório, laboratório de próteses e ao receber o material. É imprescindível criar uma barreira e seguir todos os protocolos para evitar uma contaminação.

Quais tipos de doença podem ser transmitidos por essa via?

Doenças infectocontagiosas por sangue e saliva, como hepatites, HIV, sífilis e, mais recentemente, a Covid-19.

Há comprometimento da estabilidade dimensional dos materiais nesse processo? Quais são os mais críticos?

Sim. O mais crítico é o alginato. De acordo com o fabricante, ao ser deixado secando em temperatura ambiente, o material sofre perda d’água e pode ter alterações na sua dimensão. Antes da pandemia de Covid-19, era recomendado lavar rapidamente o material e preenchê-lo com gesso. Agora, por causa dos manuais de biossegurança, o ideal é seguir o protocolo citado acima.

Eu encontro essas informações nas instruções de uso dos materiais?

Cada material tem sua especificação e orientação para o uso, mas não para a desinfecção. Por isso, é fundamental que o profissional conheça bem cada produto que vai utilizar, além de técnicas de manuseio e armazenamento. Esses conhecimentos são extremamente importantes, já que o cirurgião-dentista precisa escolher bem o material que utilizará de acordo com cada prática realizada no consultório.

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