O Clareamento Dentário nos dias atuais
Autores: Prof. Dr. Alexander Nishida (Mestre e Doutor em Biomateriais)
A preocupação com a estética é um dos fatores que mais levam os pacientes aos consultórios odontológicos hoje em dia. Ficar com um sorriso como das estrelas da mídia, influenciadores das redes sociais ou se sentir seguro e sem medo para tirar uma selfie são as razões que motivam os pacientes a procurar tratamentos com o Cirurgião-Dentista. Será mesmo?
O que vemos no dia a dia é que a primeira opção dos pacientes é procurar soluções “faça você mesmo” como produtos comprados pela internet dos mais diversos tipos, como pó de carvão, dentifrícios clareadores, vernizes, luzes que são acoplados no celular, entre outros. A questão que se coloca é: esses produtos são efetivos? A maioria, não.
Não cabe ao profissional Cirurgião-Dentista fiscalizar ou fazer juízo se esses produtos deveriam ou não ser vendidos ao consumidor e sim às entidades e órgãos competentes. Nosso papel principal deve ser orientar os pacientes quanto a periculosidade dos produtos em diversos aspectos tais quais: a falta de registro de ANVISA (falta de controle de importação, composição. regularidade e toxicidade), abrasividade (risco de desgaste ao esmalte e sensibilidade) além da possibilidade da completa ineficácia do produto. Há quem diga que esses produtos acabarão trazendo os pacientes aos consultórios cedo ou tarde, seja pelos efeitos colaterais que eles causam, seja pela insatisfação no resultado que proporcionam.
Recentemente uma das maiores dúvidas de muitos pacientes é: carvão clareia os dentes? Uma revisão de literatura recente mostrou que não só eles não possuem efeito clareador como ainda podem causar em muitos pacientes a irritação aos tecidos moles.
Uma verdade inevitável é que esses produtos estarão cada vez mais presentes no mercado. A indústria atrelada ao marketing extremamente sedutor vai lotar as prateleiras das farmácias e supermercados com produtos ditos “clareadores” cada vez mais. Se é isso que o consumidor procura, é isso que eles vão vender. Porém esse apelo mercadológico esbarra em algumas limitações. A ANVISA colocou como limite a concentração de 3% de peróxido de hidrogênio em produtos de venda direta ao consumidor como cremes dentais e enxaguantes. Por essa razão a maioria dos produtos disponíveis no mercado não entrega resultados clareadores tão bons quanto o clareamento realizado em consultório.
Em tempo, alguns deles nem peróxido tem na sua formulação mesmo sendo chamados “clareadores”. Eles têm substâncias como azul de covarina que pintam a superfície dentária com um leve azulado que opticamente resulta em um aspecto de dente mais branco para o observador que recebe a luz refletida sobre o esmalte. Esse artifício não é nenhuma novidade, nossas avós já usavam anilina para fazer a roupa parecer mais branca.
Então, concordando que as soluções que o paciente pode se auto aplicar são ineficazes, a questão é como o Cirurgião-Dentista pode fidelizar os seus pacientes através do clareamento?
Um primeiro aspecto a ser considerado é a anamnese do paciente. Descobrir os fatores que levaram a pigmentação dos dentes do paciente aumenta a chance de sucesso na terapia. O manchamento ocasionado pela dieta (alimentos pigmentados, bebidas escuras como café e vinho), por tabagismo e higiene são causas de pigmentação em que o clareamento dental é altamente efetivo. Todos os fatores chamados extrínsecos, ou seja, que se originam externamente são passíveis de remoção e sucesso através da terapia clareadora. Por outro lado, pigmentações intrínsecas originadas durante a formação do tecido dentário podem ser de difícil a impossível remoção através de clareamento. Nesse grupo entra, por exemplo, o manchamento por tetraciclina, que não é impossível de ser removido, mas a literatura mostra a utilização de clareamento de moldeiras por mais de 6 meses para viabilizar melhora do aspecto estético.
Um segundo fator a ser considerado é a escolha entre clareamento de moldeiras ou clareamento de consultório. Ambos são efetivos e não apresentam superioridade em relação a resultados de acordo com a literatura. Todavia, o clareamento de consultório (que utiliza concentrações de peróxido de hidrogênio mais elevadas) pode causar mais sensibilidade e os seus resultados tendem a ter menor duração quando comparado ao clareamento de moldeiras.
Este aspecto já seria um fator determinante para a escolha pelo clareamento de moldeiras na maioria dos pacientes, mas há um porém importante e que nem sempre é levado em consideração: ele depende da colaboração do paciente. No clareamento de moldeiras entregamos as moldeiras customizadas e o gel clareador e contamos que o paciente vai utilizar o gel adequadamente. Você pode pensar: “mas o paciente está pagando pela terapia, é claro que ele vai usar o gel.” Quantas pessoas você conhece que pagam academia e não vão? Considerando isso, é muito importante entregar somente uma seringa de gel a cada consulta e solicitar que ela seja trazida de volta nos retornos do paciente para você verificar se ela está sendo utilizada de maneira adequada ou não. Nessa modalidade de tratamento a colaboração do paciente é determinante no sucesso.
O acompanhamento da evolução da cor com utilização de uma escala padronizada é essencial para verificar não só a eficiência da terapia, mas também a colaboração do paciente. Na minha tese de doutorado provei que os pacientes se esquecem da cor original dos dentes com o decorrer da terapia clareadora. Se não há o controle com a escala, fotografias e anotações no prontuário o paciente pode julgar que não viu sucesso no tratamento e consequentemente se desestimular a realizar essa terapia ou indicar novos clientes.
Por último, outro aspecto extremamente importante para conseguir convencer o paciente a realizar a terapia clareadora é que com dentes mais claros é menor a necessidade de desgaste ou de alterações mais profundas da estrutura dentária quando se busca reabilitações estéticas. Realizar clareamento antes de fazer facetas de porcelana diminui a necessidade de desgaste dentário e normaliza o substrato deixando a cor mais uniforme.
Outro fator que pode ajudar a converter pacientes para a terapia é que hoje já não há necessidade ou indicação de diminuir o consumo de produtos pigmentantes. Já está mais do que provado na literatura que o consumo de café, vinho e até mesmo do cigarro não interfere no sucesso da terapia. Porém, se o paciente faz uso dessas substâncias tende a ter menor durabilidade da estabilidade da cor alcançada.
Todos os dias novas evidências provam que o clareamento dentário é uma terapia segura desde que seja realizada por um profissional capacitado e pode ser indicado aos pacientes que desejam ter um sorriso mais claro, saudável e bonito.