Pesquisa e Tendências

Ozonioterapia na odontologia

A versátil mistura de oxigênio e ozônio tem entre suas vantagens poderosa ação antimicrobiana, ativação do sistema imunológico,
melhora da circulação sanguínea e reparação de tecidos

O ozônio (O3), gás natural formado a partir do oxigênio (O2), é conhecido por sua poderosa ação contra microrganismos. Testes recentes realizados pelo Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por exemplo, revelaram que a ação virucida do gás pode ser uma aliada no combate à pandemia da Covid-19 por reduzir a propagação do coronavírus e auxiliar na prevenção de novos casos.

Na Odontologia, os efeitos antimicrobianos e bioestimulantes do ozônio são bem conhecidos, especialmente com o reconhecimento da chamada ozonioterapia pelo Conselho Federal de Odontologia. A técnica consiste na administração em diferentes vias de baixas doses de ozônio com o objetivo principal de modular as funções protetoras das células. É utilizada em quase todas as áreas da Odontologia: no tratamento principal ou coadjuvante de complicações periodontais, no conforto pós-operatório, na ação sobre reparo ósseo e articulação temporomandibular, em processos inflamatórios e infecciosos, na microbiologia da cárie, na redução da microbiota de canais e em outras inúmeras possibilidades que ainda estão sendo estudadas.

A concentração é um dos segredos de tamanha versatilidade terapêutica da ozonioterapia. A partir do oxigênio medicinal puro, as concentrações de oxigênio e ozônio podem variar de 1 a 100 microgramas em média, dependendo do tipo de situação clínica enfrentada. Vale ressaltar que o ozônio representa apenas 5% da mistura final, frente aos 95% de oxigênio.

As formas mais comuns para aplicação na clínica são o gás, a água ozonizada e o óleo ozonizado. “Em alta concentração do gás, teremos efeito antimicrobiano. Em baixa concentração, há estímulo ao sistema imunológico. Já a água ozonizada pode ser utilizada para irrigação de cavidades em tratamentos de canal, irrigação em cirurgia ou de bolsas periodontais, por exemplo. O óleo pode ser utilizado como tratamento do biofilme bacteriano em periodontia”, exemplifica Magda Siqueira, membro e diretora de Odontologia da Associação Brasileira de Ozonioterapia (Aboz) e membro da Academia Internacional de Medicina Oral e Toxicologia (IAOMT).

Fortalecimento do sistema imunológico

Controlar a infecção é um dos grandes desafios cotidianos da clínica odontológica. Uma das grandes vantagens apresentadas pela ozonioterapia é, justamente, a significativa ação antimicrobiana que atua diretamente na resposta imunológica, favorecendo a reparação e a regeneração de tecidos tratados pela Odontologia, como observa o cirurgião-dentista Dr. José Luiz Lage-Marques, professor de Endodontia na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp): “Esse tratamento oferece condições para que o organismo se proteja ou intensifique sua capacidade de reação diante da doença. Não é um tratamento de cura, mas ajuda a evoluir a resposta do corpo para que a cura aconteça”.

Segundo o especialista, o conhecimento sobre a ozonioterapia é sedimentado na aplicação de doenças de origem endodôntica, na periodontia, na cirurgia, no tratamento da superfície de tecidos cariados, na disfunção temporomandibular e nas necroses dos maxilares. O especialista ressalta que os efeitos positivos estão relacionados à aplicação tópica do ozônio e à capacidade de oferecer à região tratada o estímulo ao sistema imunológico. “Minha área específica é Endodontia. Como efeito antimicrobiano, o ozônio vai oxidar os lipídios insaturados que estão na superfície da membrana citoplasmática. Quando uso ozônio, principalmente nessas situações, tenho duas reações específicas: a reação imediata, que ativa respostas antioxidantes, e uma reação tardia, que é a manutenção dessa resposta antioxidante”. O especialista ressalta que o sucesso do tratamento odontológico, assim como o do tratamento geral de saúde, é muito vinculado à resposta que o paciente dá às orientações profissionais.

A importância da capacitação

Desde que empregadas em concentrações ajustadas e seguindo os protocolos estabelecidos, a ozonioterapia é uma técnica segura. Estudos mostram que a incidência de efeito colateral é de 0,0007%, bem menor do que em terapias tradicionais, como as baseadas em ácido acetilsalicílico, que chegam a 0,2%. No entanto, para que os benefícios aconteçam é fundamental que o profissional tenha conhecimento e domínio da técnica, além de realizar o curso de capacitação de 32 horas exigido pelo Conselho Regional de Odontologia.

“O gás ozônio é altamente instável e nocivo se inalado, por isso deve ser gerado de forma precisa com equipamento específico no local de uso. É essencial pensar sobre a dosagem do ozônio a partir da indicação exata da patologia”, indica Magda Siqueira. “A principal contraindicação é para pacientes com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase, conhecida como favismo. Mas em alguns casos, como hipertireoidismo descompensado, diabetes mellitus descompensada, hipertensão arterial severa e anemia grave, é necessário fazer uma estabilização prévia dessas condições antes da aplicação da ozonioterapia.”

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