Pesquisa e Tendências

PASTILHA PROBIÓTICA

INÉDITA NA ODONTOLOGIA

Produto desenvolvido pela USP mostrou-se efetivo no combate a inflamações bucais, além de tornar as mucosas orais mais resistentes

Os tratamentos de problemas bucais comuns, como gengivite e periodontite, podem ganhar um aliado importante em um futuro próximo. Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FORP-USP) desenvolveu uma pastilha com tecnologia inovadora que promete auxiliar significativamente no combate a essas doenças e ainda aumentar a resistência das mucosas orais, reduzindo os riscos de novas infecções.

“A pastilha contém uma cepa probiótica denominada Bifidobacterium animalis subsp. lactis HN019”, explica a professora Flávia Furlaneto, da FORP-USP, uma das pesquisadoras do grupo, em entrevista à Conexão UNNA. Em estudos clínicos controlados, o produto mostrou-se capaz de alterar os microorganismos presentes na região bucal e de favorecer a imunocompetência, ou seja, a capacidade de defesa e proteção natural. Os professores Michel Reis Messora, da Forp, e Sergio Luiz Salvador, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP), e a farmacêutica Rita Paula Ignácio também participaram do desenvolvimento do produto.

Vale reforçar que a pastilha não substitui o tratamento convencional, mas o auxilia, trazendo resultados significativos. “O paciente com a doença periodontal faz a raspagem com o periodontista e, de maneira complementar, usa o produto em casa”, reforça Flávia. A orientação, segundo a pesquisadora, é colocar a pastilha na região sublingual – e não engolir. “Aos poucos, ela vai sendo dissolvida e tem uma ação local, na cavidade bucal. Depois, conforme o conteúdo é deglutido, também haverá uma ação sistêmica ao chegar no sistema gastrointestinal”, relata.

Os testes demonstraram que as pessoas que utilizaram o produto duas vezes por dia, por um período de 30 a 60 dias após o tratamento, apresentaram menos inflamações e mudanças positivas no equilíbrio entre as bactérias que colonizam a cavidade bucal.

AÇÃO DOS PROBIÓTICOS

Os probióticos são microrganismos vivos, como bactérias, que podem melhorar a saúde, promovendo equilíbrio. São as chamadas “bactérias do bem”. Para que um produto seja considerado probiótico, como a pastilha desenvolvida na USP, ele deve ter uma quantidade suficiente dessas bactérias, para oferecer benefícios à saúde do paciente.

O grande desafio da pesquisa foi chegar à cepa específica de bactéria que foi utilizada. “Testamos várias outras cepas antes e os resultados não foram tão promissores”, destaca a professora. Ela explica que o grupo chegou à cepa Bifidobacterium animalis subsp. lactis HN019 com base em estudos que já demonstraram algum potencial imunomodulador. “Então, verificamos que esse potencial poderia ser útil na periodontite”, conclui. Primeiro, foram feitos diversos testes in vitro com bactérias periodontopatogênicas, ou seja, que causam doenças que afetam os tecidos periodontais e, em seguida, em animais, até chegar à etapa com pacientes humanos.

INOVAÇÃO NO MERCADO

A pastilha probiótica é uma tecnologia pioneira no mercado. “No Brasil, não há nenhum produto probiótico voltado especificamente para a saúde bucal ou periodontal”, afirma a pesquisadora. No mercado internacional, existem outros probióticos para a saúde bucal, mas nenhum com a cepa e a ação específica do produto criado na USP. Será que demora para ele chegar aos consultórios por aqui? De acordo com Flávia, a Agência USP de Inovação (Auspin) já patenteou o produto e está em negociação com empresas para que ele possa ser comercializado.

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