Pesquisa e Tendências

Proteção que vem da gengiva

Estudo demonstra ação antimicrobiana de proteína presente no epitélio gengival e sugere caminhos para tratamento e prevenção de doenças

Os efeitos nocivos de doenças bucais na saúde geral já são bastante conhecidos. Mas também é possível encontrar caminhos para a cura na boca, ou melhor, na gengiva. É o que sugere um estudo canadense publicado em dezembro de 2021 na revista Scientific Reports. O trabalho foi conduzido por Antonio Nanci, pesquisador e professor do Departamento de Estomatologia da Universidade de Montreal, e pela pesquisadora de pós-doutorado Charline Mary, em colaboração com colegas da Université Laval e da McGill University.

“Este é o início de uma aventura emocionante e promissora que traz a Odontologia de volta à vanguarda da saúde geral”, disse Nanci em publicação oficial da Universidade de Montreal. Isso porque o estudo sugere que a fosfoproteína de secreção 1 de ligação ao cálcio rica em prolina e glutamina (SCPPPQ1), expressa pelas células do epitélio juncional, tem potencial para combater a bactéria Porphyromonas gingivalis (P. gingivalis), presente na periodontite e associada a doenças como o Alzheimer.

“Este estudo pode contribuir para o avanço em pesquisas relacionadas a doenças como o Alzheimer”

Ação antimicrobiana

A SCPPPQ1 é normalmente produzida pelo epitélio gengival, a parte da gengiva que envolve os dentes e protege seus tecidos do ambiente bucal agressivo. Esta proteína já era conhecida por sua ação bactericida, então o objetivo dos pesquisadores foi explorar também sua força antibacteriana. Para isso, observaram seu modo de ação e identificaram suas partes ativas.

Realizada por meio de simulação computacional, a análise mostrou paralelos moleculares da proteína com peptídeos antimicrobianos. A incubação da P. gingivalis com a SCPPPQ1 humana resultou na diminuição do número de bactérias, formação de agregados e rupturas de membrana.

Já a investigação de peptídeos derivados de SCPPPQ1 indicou que esses efeitos positivos são sustentados por regiões específicas da molécula. Esses dados não só sugerem que essa proteína tem capacidade antibacteriana como também fornecem novos insights sobre seu mecanismo de ação.

“Os dentes são o único local onde o envelope integral do corpo humano é penetrado, por isso são um ponto crítico para a entrada de bactérias”, explica Nanci. “O potencial antibacteriano da proteína SCPPPQ1 poderia ser explorado não apenas para limitar a doença periodontal, mas também como abordagem de tratamento para verificar os efeitos das bactérias no cérebro ou em outros locais para onde se espalham.”

Para Mary, os resultados oferecem uma estratégia adicional para resolver o problema da resistência bacteriana. As próximas fases vão aprofundar a investigação da capacidade da SCPPPQ1 de prevenir a doença periodontal quando adicionada ao creme dental, por exemplo. Também será avaliada sua possível capacidade de destruir outras bactérias alojadas no epitélio gengival.

Saiba mais:

Mary C, Fouillen A, Moffatt P, Bello DG, Wazen RM, Grenier D, Nanci A. Effect of human secretory calcium-binding phosphoprotein proline-glutamine rich 1 protein on Porphyromonas gingivalis and identification of its active portions. Sci Rep [Internet]. 2021 [acesso em 15jun.2022];11(23724). Disponível em: https://doi.org/10.1038/ s41598-021-02661-w.

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