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Protocolo de Enxaguatório Pré-Procedimento

Cristina Cunha Villar, professora doutora do Departamento de Estomatologia da FOUSP – disciplina de Periodontia.

Jorge Abrão

A produção de aerossóis é inevitável durante os procedimentos geradores dessas partículas (AGPs). Além disso, determinadas técnicas odontológicas podem, indiretamente, levar os pacientes a tossirem vigorosamente, resultando na produção de aerossóis. Essas partículas podem conter agentes virais, bacterianos e fúngicos, representando riscos de infecção tanto por contato direto quanto indireto.

Dessa forma, os profissionais de saúde bucal enfrentam um risco significativo de transmissão de doenças infecciosas por meio da exposição a gotículas nas mucosas, inalação de aerossóis e contato com superfícies contaminadas. A extensão desse risco durante os AGPs depende de vários fatores, incluindo o estado de infecção do paciente, a virulência do patógeno, o tipo e a duração do procedimento, bem como a eficácia das medidas de proteção implementadas.

Enxaguatórios Pré-Procedimento

Uma estratégia recomendada para minimizar a contaminação por aerossóis durante AGPs é a utilização de um enxaguatório bucal antisséptico antes do procedimento. Diversos enxaguatórios bucais comercialmente disponíveis, como a clorexidina, cloreto de cetilpiridínio (CPC), óleos essenciais (EO) e iodopovidona (PI), possuem propriedades antibacterianas e virucidas de amplo espectro e foram avaliados quanto à sua eficácia na redução do aerossol contaminado. Assim, esse boletim tem como objetivo orientar os profissionais da odontologia na seleção dos enxaguatórios bucais para pré-procedimento mais eficazes a fim de minimizar a contaminação por aerossóis.

Clorexidina

A clorexidina, um potente composto bicatiônico de bisbiguanida considerado padrão-ouro como desinfetante na odontologia, demonstra eficácia contra uma ampla variedade de microrganismos, incluindo bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, vírus lipofílicos e fungos. Seu efeito varia de acordo com a concentração; doses baixas resultam em um efeito bacteriostático comprometendo a integridade da membrana celular bacteriana, levando ao vazamento de componentes bacterianos de baixo peso molecular. Por outro lado, em concentrações elevadas, a clorexidina demonstra um efeito bactericida, promovendo a ruptura da membrana celular microbiana e liberação do conteúdo citoplasmático microbiano.

Os enxaguatórios bucais de clorexidina, geralmente disponíveis comercialmente em concentrações variando de 0,12% a 0,2%, foram objeto de estudo em diversas pesquisas. Esses estudos destacam o impacto positivo da clorexidina quando utilizada como enxaguante pré-procedimento dentro dessa faixa de concentração, por pelo menos 1 minuto. Observou-se uma clara redução nos níveis de aerossol contaminado, quando comparado ao uso de alternativas como água, água ozonizada, solução salina, óleos essenciais (EO), iodopovidona ou ácido bórico para enxágue. No entanto, não foram observadas diferenças na eficácia entre a clorexidina e o cloreto de cetilpiridínio (CPC) ou o CPC com zinco (CPC+Zn) na redução do aerossol contaminado.

Cloreto de cetilpiridínio

O cloreto de cetilpiridínio (CPC), um composto catiônico de amônio quaternário, também possui propriedades antimicrobianas de amplo espectro. Assim como a clorexidina, o CPC interage com as paredes celulares microbianas, promovendo o aumento da permeabilidade celular e subsequente perda de componentes intracelulares. Essas mudanças resultam na redução do metabolismo microbiano ou na morte dos microrganismos, dependendo da concentração do CPC.

Comercialmente, o CPC está disponível em concentrações que variam de 0,05% a 0,10%, sendo comercializado como único ingrediente ativo (CPC) ou combinado com zinco (CPC+Zn). Estudos têm demonstrado os benefícios do enxague pré-procedimento com CPC ou CPC+Zn por 1 minuto em comparação à ausência de enxague ou ao enxague com água. Além disso, como mencionado anteriormente, os estudos sugerem que tanto o CPC quanto o CPC+Zn reduzem o nível de contaminação por aerossóis em uma extensão semelhante à clorexidina.

Óleos essenciais

Os óleos essenciais são extratos voláteis de plantas aromáticas reconhecidos por suas propriedades antimicrobianas. Geralmente, os enxaguatórios bucais contendo óleos essenciais são compostos por uma combinação de timol, mentol, eucaliptol e salicilato de metila.

Esses óleos apresentam atividade antimicrobiana contra bactérias em estado livre e aquelas associadas a biofilmes, exibindo eficácia abrangente contra diversas bactérias e leveduras. Seu mecanismo de ação envolve a ruptura das membranas celulares e das paredes bacterianas, supressão das enzimas glicosiltransferase e inibição do crescimento bacteriano. No entanto, é importante notar que os óleos essenciais possuem um potencial menor para reduzir a contaminação microbiana durante AGPs quando comparados à clorexidina.

Outros antissépticos

Alguns estudos demonstraram que a iodopovidona e o ácido bórico possuem potencial para reduzir a contaminação microbiana durante AGPs, embora em menor grau se comparados à clorexidina.

Considerações finais

A literatura atual indica que os enxaguantes prévios ao procedimento, tais como a clorexidina e o cloreto de cetilpiridínio (CPC), têm a capacidade de diminuir a contaminação bacteriana presente em aerossóis. Portanto, recomenda-se a utilização desses enxaguantes em conjunto com estratégias abrangentes de controle de infecção. Contudo, é fundamental ressaltar que o impacto desses enxaguantes na redução da incidência de infecções entre os profissionais de saúde bucal ainda permanece desconhecido.

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