Reabilitação Protética bucomaxilofacial em Perdas Maxilares: suas necessidades e aplicações

Autores: Neide Pena Coto (Docente da Disciplina de Prótese Bucomaxilofacial da FOUSP; Vice Coordenadora do Curso de especialização em Prótese Bucomaxilofacial da FFO – FUNDECTO) e Cintia Baena Elchin (Mestranda em Ciências Odontológicas, área de concentração em Reabilitação em Odontologia da FOUSP; Especializada em Prótese Bucomaxilofacial da FFO-FUNDECTO).

A perda de substância da maxila, palato duro e mole pode ser ocasionada por mais de 40 tipos de etiologias diferentes. Entre elas as doenças congênitas, traumas como acidentes automobilísticos e acidentes de trabalho ou ainda comunicações causadas pelo tratamento de algumas patologias. Apresentam crescente aumento devido aos diversos tipos de câncer de cabeça e pescoço que acometem a maxila. Ocasionam comunicação bucosinusal ou buconasal, provocam dificuldades na fala e deglutição, acompanhadas por complicações que essa comunicação acarreta, impactando na saúde do paciente acometido.

O cirurgião-dentista especialista em prótese bucomaxilofacial em ação conjunta com o nutricionista pode diagnosticar e tratar essas complicações como sarcopenia, perda de peso e desnutrição desses pacientes, que foram causadas pela dificuldade na alimentação, mastigação e absorção dos nutrientes com a comunicação local, além do escape de alimentos sólidos e líquidos pela comunicação bucosinusal ou nasal.

Em especial, os pacientes oncológicos são impactados, devido a mudanças na alimentação como a redução na ingestão de calorias e proteínas e o aumento crescente do tumor, que são os principais fatores que determinam a presença da desnutrição nesses pacientes. Além disso, as alterações metabólicas provocadas pela doença e os tratamentos invasivos são fortes influenciadores para o processo que desencadeia a má nutrição. A desnutrição está presente em aproximadamente 50% dos pacientes admitidos nas unidades de internação, podendo chegar a 80% em pacientes com câncer de cabeça e pescoço.

Pacientes com a função mastigatória debilitada acabam ingerindo porções maiores dos alimentos ou alteram sua dieta, evitando esse tipo de alimentação e optando por aquela mais fácil para a mastigação. Com isso, a absorção de nutrientes, que se inicia na boca, fica comprometida. A maioria das frutas e vegetais crus apresentam em sua constituição paredes de celulose que não são absorvidas pelo organismo, logo uma boa mastigação se faz necessária para desintegração dessas porções com a finalidade de absorção dos nutrientes presentes nesses alimentos.

Em muitos casos existem impeditivos para que o fechamento dessas comunicações advindas do tratamento, sejam de forma cirúrgica, fatores eles devido a extensão do defeito, comorbidades que impeçam o paciente a ser submetido a novo procedimento cirúrgico ou ainda indicações de radioterapia. Nesses casos as próteses obturadoras são recomendadas, além delas a vantagem de ser menos invasivas e permitirem um exame clínico local facilitado no controle de possíveis recidivas. Dessa forma, os pacientes que tiverem a remoção total ou parcial da maxila necessitam de uma reabilitação com próteses obturadoras (figura 1). As ausências dentais, de estruturas ósseas e mucosas irão progressivamente, se somando como coadjuvantes na perda da qualidade da comunicação e consequentemente da qualidade de vida.

Figura 1 – Vista frontal de uma prótese reabilitadora bucomaxilofacial para perda das porções de osso alveolar, palato duro e mole da região da maxila.

O tratamento reabilitador pode ser confeccionado em três diferentes momentos: no transcirúrgico, logo após a cirurgia ou após a reparação total dos tecidos, sendo o atendimento ideal o recebimento do paciente antes mesmo da cirurgia.

As próteses obturadoras ao obliterarem a cavidade, restabelecem a fonação, deglutição e a reabilitação estética e funcional, pois na ausência do dispositivo, haverá o comprometimento da fala, uso prolongado do tampão curativo e alimentação por sonda nasoenteral, apresentando prejuízo significativo à qualidade de vida destes pacientes, já comprometidos por sua condição de base.

Para cada região de defeito maxilar, há uma possibilidade de confecção de um obturador palatino. Dependendo da localização, extensão, presença ou ausência de estrutura de suporte e das condições gerais de saúde do indivíduo, é possível planejar e confeccionar uma prótese de forma funcional e direcionada às necessidades de cada paciente em particular. A remoção de parte ou da totalidade da maxila pode criar maiores problemas relacionados à estabilidade da futura prótese, dificultando a retenção. Além disso, é necessário manter a prótese leve, para evitar que a ação da gravidade a desloque. Em muitos casos, implantes podem ser utilizados para aumentar a estabilidade, retenção e suporte à prótese obturadora.

A melhora do padrão nutricional e do prazer proporcionado pela alimentação, o retorno à capacidade de fala, proporcionados pela prótese obturadora resgatam não só a função, como a estética e por consequência a autoestima do paciente e permite uma reinserção social menos traumática após a ressecção de maxila, devolvendo o bem-estar do convívio em sociedade, como mostram as figuras 2A e 2B. A reabilitação com prótese obturadora tem papel fundamental na saúde física e psicossocial de pacientes que sofreram perdas intraorais, por isso é de suma importância termos cada vez mais profissionais qualificados e preparados para atendimentos desses pacientes.

Figura 2.A – Paciente mutilado com perda de maxila atingindo porções do osso alveolar, palato duro e mole.

Figura 2.B – Paciente reabilitado por uma prótese bucomaxilofacial para a região de perda maxilar.

Referências

Sandmæl JA, Sand K, Bye A, Solheim TS, Oldervoll L, Helvik AS. Nutritional experiences in head and neck cancer patients. Eur J Cancer Care (Engl). 2019;28(6):1-11. doi:10.1111/ecc.13168

Kramer B, Wenzel A, Boerger M, et al. Long-Term Quality of Life and Nutritional Status of Patients with Head and Neck Cancer. Nutr Cancer. 2019;71(3):424-437. doi:10.1080/01635581.2018.1506492

Martins LK, Carvalho AR da S, Oliveira JLC de, Santos RP dos, Lordani TVA. Qualidade de vida e percepção do estado de saúde entre indivíduos hospitalizados. Esc Anna Nery2020;24(4):e20200065. doi:10.1590/21779465-ean-2020-0065

Carvalho JCM, Dias RB, Mattos BSC, André M. Reabilitação Protética Craniomaxilofacial. Santos – São Paulo; 2013

Nakamura, D. M., Pimentel, M. L., Coto, N. P., & Dias, R. B. (2020). Quality of Life and Maxillary Defects: A Cross-Sectional Study. Int. j. odontostomatol.(Print), 67-72.

Rolar para cima