Segurança 360º

A importância de ter uma visão ampla sobre o conjunto de medidas que mitigam o risco de incidentes com pacientes no ambiente odontológico

A pandemia da Covid-19 reforçou o alerta dos cuidados necessários para evitar a contaminação de pacientes, cirurgiões-dentistas e equipes. Mais do que nunca na história recente da Odontologia, destacou-se a importância de redobrar a atenção com a biossegurança nos consultórios. A preocupação em compreender e cumprir à risca o conjunto de medidas específicas para a proteção solidificou, no dia a dia, os protocolos que devem ser seguidos em todos os estabelecimentos de saúde. “O objetivo principal é criar um ambiente em que se promova a contenção dos riscos de exposição a agentes potencialmente nocivos, de modo que estes sejam minimizados ou eliminados”, diz Keller De Martini, consultor científico em Odontologia Hospitalar da Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas (ABCD).

O movimento, que tinha como foco imediato a biossegurança, incentivou a ampliar o espectro para uma visão de 360 graus da segurança do paciente nos consultórios. Além dos aspectos relacionados, por exemplo, à higienização das mãos, à utilização dos equipamentos de proteção individual e à correta desparamentação, entram em cena os cuidados para combater, por completo, todos os fatores que possam prejudicar o paciente durante o atendimento clínico. Eles englobam desde o momento de identificação pessoal no início do atendimento até a acessibilidade do ambiente ambulatorial, entre outros pontos importantes.

O objetivo de analisar com uma lente macro os protocolos ideais é combater as eventuais ameaças durante o atendimento clínico à segurança do paciente, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma série de medidas para reduzir a um mínimo possível o risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde.

Ciente da importância de reforçar essa visão mais ampla sobre a segurança do paciente, a Odontroprev disponibilizou aos seus associados um documento que compila as informações atuais de reconhecidas instituições com condutas que mitigam o risco de ocorrência de incidentes. No Manual de Segurança do Paciente, é apresentado, de maneira clara e prática, o conjunto de medidas efetivas para você adotar em seu consultório – algumas delas são abordadas nesta reportagem; para ter acesso ao conteúdo completo do Manual, acesse https://www.redeunna.com.br/dentista/login.do.

Vale lembrar que, além das recomendações da Organização Mundial da Saúde, os cirurgiões-dentistas do Brasil devem cumprir a Portaria GM/MS nº 529/2013, que instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). “Os protocolos são orientados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelo Ministério da Saúde, pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) e pela Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO). Conselhos regionais e associações seguem normas e diretrizes parecidas”, afirma De Martini.

EPIs, treinamento e descarte correto

Como em qualquer ambiente prestador de serviço à saúde, no consultório odontológico existe a exposição a agentes patogênicos, além de haver riscos físicos e químicos, mesmo nos atendimentos mais simples. Durante os procedimentos, tanto o paciente quanto o profissional podem ser expostos a um organismo causador de doenças ou mesmo ser feridos por algum instrumento.

Por essa razão, a professora Cassia Maria Fischer Rubira, presidente da Comissão de Biossegurança da Faculdade de Odontologia de Bauru, da Universidade de São Paulo (FOB-USP), reforça que é necessário aplicar as normas básicas de biossegurança, como manter o ambiente sempre limpo e utilizar equipamentos adequados às tarefas executadas, como luvas, máscaras, óculos, protetores faciais, jalecos e aventais, os populares EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). “Mas também é preciso investir em treinamento da equipe a respeito do manuseio e do descarte de materiais, como seringas, agulhas, remédios, insumos com materiais biológicos, entre outros, e do enfrentamento de situações de risco”, afirma.

Segundo Cassia, os acidentes perfurocortantes são os que mais ocorrem em ambientes odontológicos. “Os ferimentos podem ser provocados por agulhas ou outros materiais invasivos contaminados. O uso de luvas como barreira e o descarte correto dos materiais, portanto, devem ser seguidos à risca”, recomenda. Não é à toa, portanto, que o CFO ressalta a importância de haver um coletor ou caixa perfurocortante, apropriados para o descarte de resíduos capazes de cortar ou perfurar a pele, como agulhas e seringas, sem desconectá-las ou reencapá-las. Essa caixa de papelão deve ser identificada e, na parte interna, deve conter um saco plástico com duplo revestimento, uma cinta e uma bandeja para impedir o vazamento de líquidos. Não custa lembrar: as lixeiras dos ambientes de atendimento devem ter acionamento por pedal, com o intuito de prevenir a contaminação das mãos.

Covid-19: mudanças nos consultórios

Quando o mundo se viu diante de uma perigosa pandemia, em março de 2020, os cirurgiões-dentistas foram alguns dos profissionais mais expostos, já que a principal forma de transmissão de Covid-19 é por meio das vias respiratórias, sobretudo por meio da saliva e de aerossóis.

Uma pesquisa realizada com dentistas no Espírito Santo pela Instituição de Ensino Superior Multivix mostrou que 100% dos cirurgiões-dentistas participantes sofreram impactos na biossegurança nos consultórios durante a pandemia. A maioria deles (93%) afirmou sentir mais segurança durante o atendimento odontológico ao seguir os protocolos e usar corretamente os equipamentos de proteção individual.

Para a professora Cassia, um dos maiores problemas desse período de pandemia foi, na verdade, a interrupção de alguns tratamentos. Com os pacientes impedidos de continuar o atendimento com o profissional, alguns problemas de saúde bucal de baixa complexidade se tornaram, devido a esse intervalo, de média e alta complexidades. “Considerando-se os conhecimentos de epidemiologia e biossegurança que temos hoje, baseados em evidências, assim como a atuação dos órgãos de vigilância, o profissional de Odontologia do Brasil está bem preparado e sabe lidar com qualquer adversidade”, opina a professora da FOB-USP.

Isso tanto é verdade que as principais medidas de biossegurança, como o uso de máscara N95 ou PFF2 e a desinfecção frequente dos ambientes com hipoclorito de sódio a 0,1% e álcool isopropílico a 70%, já faziam parte da rotina dos consultórios antes do advento do coronavírus, e, depois dele, foram reforçadas.

Nesse processo recente de fixação de protocolos pelo qual passamos com a Covid-19, o paciente também foi orientado a colaborar. “Ele é um dos elos, junto com o profissional e o ambiente. Na quebra de qualquer um desses elos, consequentemente, rompe-se a cadeia de biossegurança”, lembra Cassia.

Visão 360°

Como já vimos, cuidar da segurança do paciente é, em resumo, ter uma visão ampla de tudo o que pode acontecer antes, durante e depois do atendimento odontológico, do momento em que ele pisa no consultório até a hora em que vai para casa.

Por isso, além das medidas de prevenção de transmissão de doenças infecciosas e cuidados com instrumentos, é necessário pensar em detalhes como uma identificação segura do paciente, com mais de dois dados – como nome completo e data de nascimento, por exemplo, ou número de prontuário. Essas informações devem estar atreladas a todos os documentos, exames e anotações referentes ao tratamento daquele indivíduo, para o caso de o cirurgião-dentista ou o próprio paciente precisarem acessá-los. Assim, além de tudo ficar mais organizado e rastreável, evitam-se confusões com pacientes homônimos.

LINHA DO TEMPO DA BIOSSEGURANÇA

É importante também que tanto o cirurgião-dentista, como sua equipe, saibam o que fazer em casos de urgência e emergência, primeiros socorros, protocolos médicos e manobras, além de ter definida uma estratégia de como agir e que tipo de ajuda externa buscar, em casos que não puderem ser resolvidos dentro do ambiente do consultório.

A estrutura arquitetônica do consultório também merece atenção, sobretudo quanto ao tipo de material usado em pontos estratégicos. De acordo com o Manual de Segurança do Paciente, os materiais de revestimento, cerâmicos ou não, quando utilizados nas áreas críticas, ou seja, onde são realizados os atendimentos, não podem ter índice de absorção de água superior a 4%, assim como o rejunte das peças, para evitar contaminação e manter a limpeza e a desinfecção. E tem mais: as tintas elaboradas à base de epóxi, PVC, poliuretano ou outras substâncias destinadas a áreas molhadas podem ser utilizadas em pisos, paredes e tetos de áreas críticas, desde que sejam resistentes à lavagem, ao uso de desinfetantes e não sejam aplicadas com pincel.

O cuidado com a iluminação, a identificação de degraus e de pisos escorregadios, a instalação de corrimãos e a ajuda para pacientes com maior dificuldade de mobilidade, como crianças, idosos e pessoas com deficiência, são outros pontos de atenção entre as medidas de prevenção de quedas. “Minimizar os riscos significa aumentar a atenção à saúde de modo geral, priorizando as boas práticas”, conclui a professora Cassia Rubira, da FOB-USP.

DESPARAMENTAÇÃO: O JEITO RECOMENDADO PARA RETIRAR OS EPIS

Para o profissional de saúde, seguir esse procedimento é essencial para evitar contaminação.

1. Remova as luvas;

2. Em seguida, remova a proteção facial de trás para frente;

3. Remova o jaleco/avental, puxando-o pela região dos ombros;

4. Remova gorro e máscara, em movimento único, de trás para a frente;

5. Para a desinfecção da viseira, utilize novas luvas;

6. Higienize as mãos e o rosto ao final de todo o processo e as mãos após cada passo.

Fontes: Manual de Boas Práticas em Biosegurança para Ambientes Odontológicos da Odontoprev
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