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Soluções estéticas em crianças e adolescentes

José Carlos Pettorossi Imparato, Professor Livre-docente de Odontopediatria da FOUSP e Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Odontopediatria do São Leopoldo Mandic.

Bruna Lorena Pereira Moro, Especialista em Odontopediatria e Professora colaboradora no programa de Pós-graduação da Faculdade São Leopoldo Mandic em São Paulo, Campinas e Brasília, onde atua também como coordenadora acadêmica dos cursos de Pós-graduação em Odontopediatria na unidade de São Paulo.

Jorge Abrão

Atualmente, a busca por soluções estéticas na clínica de Odontopediatria está muito relacionada com as consequências da cárie dentária e da hipomineralização de molares e incisivos (HMI). Frequentemente se observa a destruição coronária de dentes decíduos anteriores em decorrência da cárie, especialmente a cárie na primeira infância, ou seja, quando há presença de uma ou mais superfícies cariadas (cavitada ou não cavitada), perdidas ou restauradas (devido à cárie) em qualquer dente decíduo de uma criança com menos de seis anos de idade (1).

Assim, muitas vezes se faz necessário realizar um tratamento restaurador para evitar a progressão da lesão e a perda prematura do elemento, a qual poderá interferir no desenvolvimento e na erupção dos dentes sucessores permanentes; alterar o desenvolvimento da fala; promover o estabelecimento de hábitos não nutritivos; e afetar a percepção estética e a qualidade de vida da criança (2).

Dessa forma, técnicas restauradoras como a ACT Technique® se tornam relevantes no cenário atual. A técnica consiste na restauração de dentes anteriores decíduos com resina composta direta, com o auxílio de matrizes de policloreto de vinila (PVC), sem a necessidade de remoção de tecido cariado e anestesia local (3) (Figura 1). Associa-se assim os princípios da filosofia de Mínima Intervenção, com a baixa complexidade técnica, além de um tempo clínico rápido na sua execução e satisfatório resultado estético e funcional, possibilitando a reabilitação de dentes anteriores decíduos em pacientes de baixa idade e/ou comportamento negativos (3).

Cabe ressaltar a importância de um adequado diagnóstico clínico, e quando necessário também radiográfico, pois a ACT Technique® está indicada somente nos casos em que não há comprometimento pulpar. Além disso, associado ao tratamento restaurador, os responsáveis e a criança devem receber orientações sobre higiene bucal, uso diário de dentifrício fluoretado e sobre o consumo racional de alimentos cariogênicos. Esta técnica restauradora ainda carece de estudos clínicos com acompanhamento a longo prazo, por isso, ainda faltam evidências científicas em relação a longevidade das restaurações, assim como sua aceitabilidade.

Figura 1 – (A) Aspecto inicial dos dentes 51, 52, 61 e 62 com lesões cavitadas ativas de cárie. (B) Aspecto final após as restaurações realizadas com ACT Technique®. Foram utilizadas matrizes de PVC (TDV, Pomerode, Santa Catarina, Brasil) e resina composta Aura DB (SDI, Victoria, Austrália)

Fonte: Imagens gentilmente cedidas por Alessandra Rech, Adelizi Nataly Rosa Ribeiro, Daniel Paiva e Mariana Olbertz.

Além da cárie dentária, os defeitos de desenvolvimento do esmalte dentário passaram a ser evidenciados nos últimos anos. Dentre eles destaca-se a HMI, a qual apresenta uma prevalência que varia de 2,8 a 44% ao redor do mundo (4). A HMI é um defeito qualitativo do esmalte dentário, presente em um ou mais primeiros molares permanentes. Simultaneamente, os incisivos permanentes podem estar associados, com maior ocorrência sendo observada nos incisivos superiores (5).  

De acordo com a Academia Europeia de Odontopediatria, as decisões apropriadas de tratamento para dentes anteriores com HMI devem levar em consideração vários fatores, como a coloração da opacidade demarcada, sua extensão e profundidade, por exemplo (5). De uma maneira geral, os tratamentos sempre serão iniciados pelos menos invasivos, sendo importante considerar que em pacientes jovens os incisivos apresentam uma câmara coronária larga, e que uma abordagem minimamente invasiva permite a conservação da estrutura dentária para futuras opções restauradoras (5).

Dentre as possibilidades de tratamento, é possível destacar a microabrasão do esmalte com pasta composta de ácido clorídrico a 18% ou pedra-pomes e ácido fosfórico a 37% para remover a camada superficial do esmalte (5). No entanto, por si só a microabrasão pode não ser o tratamento ideal para incisivos com HMI, especialmente, para opacidades mais profundas (6).

O uso do infiltrante resinoso também tem sido considerado como uma opção de tratamento estético para alterações de HMI, apesar do material ter sido inicialmente desenvolvido para tratar manchas brancas de lesões cariosas, a técnica microinvasiva não remove a mancha decorrente da HMI, mas preenche as áreas porosas, e a refração da luz ajuda a mascarar o defeito de esmalte (7). A aplicação prévia do ácido clorídrico a 15% possibilita a infiltração da resina que possui um alto coeficiente de penetração (7) (Figura 2).

Alguns incisivos, no entanto, poderão requerer restaurações minimamente invasivas com resina composta, e para um melhor resultado estético a técnica restauradora pode ser precedida sem ou com o mínimo de desgaste dentário, além dos tratamentos de microabrasão, clareamento dental e infiltrante resinoso devido a severidade e extensão do defeito presente. Uma combinação de abordagens de tratamento pode ser a solução para dentes anteriores afetados por HMI, sendo que tratamentos simples e minimamente invasivos podem proporcionar bons resultados clínicos e psicossociais para os pacientes (8). 

Figura 2 – Tratamento com infiltrante resinoso Icon® (DMG, Hamburgo, Alemanha) nos elementos 11 e 21. Inicialmente foram realizadas 2 sessões de microabrasão utilizando o Whiteness RM (FGM, Joinville, Santa Catarina, Brasil). Na segunda consulta, iniciou-se o tratamento com o infiltrante: (A) Aspecto inicial após isolamento absoluto. (B) Três aplicações do Icon® Etch (HCL 15%) por 2 minutos cada, seguido de lavagem, secagem e aplicação do Icon® Dry (etanol a 95%) por 30 segundos após cada condicionamento. (C) Primeira aplicação do Icon® Infiltrante por 3 minutos. (D) Aspecto final após a segunda aplicação do Icon® Infiltrante durante 1,5 minuto

Fonte: Imagens gentilmente cedidas pelo Prof. Dr. José Carlos Pettorossi Imparato do caso realizado pelas alunas Taís Chaves Magalhães e Alana Gail Lopes.

Atualmente o Prof. Dr. Laurindo Borelli Neto, Presidente e Diretor Técnico da empresa DMG do Brasil, tem desenvolvido protocolos clínicos de infiltração do Icon® (DMG, Hamburgo, Alemanha), com um tempo maior de condicionamento ácido e infiltração do material no tratamento de dentes acometidos pela HMI.

Referências 

  1. Pitts N, Baez R, Diaz-Guallory C, et al. Early Childhood Caries: IAPD Bangkok Declaration. Int J Paediatr Dent. 2019; 29:384-386.
  2. Nadelman P, Magno MB, Pithon MM, Castro ACR, Maia LC. Does the premature loss of primary anterior teeth cause morphological, functional and psychosocial consequences? Braz Oral Res. 2021 Nov 19;35:e092. doi: 10.1590/1807-3107bor-2021.vol35.0092. PMID: 34816892.
  3. Ribeiro ANR, Rech A, Paiva D, Olbertz M, Gimenez T, Moreira KMS, Imparato JCP. Novas perspectivas para o tratamento de lesões de cárie em dentes decíduos anteriores: série de casos por ACT Technique. Rev. APCD. 2021; 75 (2):113-119.
  4. Zhao D, Dong B, Yu D, Ren Q, Sun Y. The prevalence of molar incisor hypomineralization: evidence from 70 studies. Int J Paediatr Dent. 2018 Mar;28(2):170-179. doi: 10.1111/ipd.12323. Epub 2017 Jul 21. PMID: 28732120.
  5. Lygidakis NA, Garot E, Somani C, Taylor GD, Rouas P, Wong FSL. Best clinical practice guidance for clinicians dealing with children presenting with molar-incisor-hypomineralisation (MIH): an updated European Academy of Paediatric Dentistry policy document. Eur Arch Paediatr Dent. 2022 Feb;23(1):3-21.
  6. Wong F, Winter G. Effectiveness of microabrasion technique for improvement of dental aesthetics. Br Dent J. 2002;193(3):155–8.
  7. Borges AB, Caneppele TM, Masterson D, Maia LC. Is resin infiltration an effective esthetic treatment for enamel development defects and white spot lesions? A systematic review. J Dent. 2017 Jan;56:11-18. doi: 10.1016/j.jdent.2016.10.010. Epub 2016 Oct 25. PMID: 27793705.
  8. Hasmun N, Vettore MV, Lawson JA, Elcock C, Zaitoun H, Rodd HD. Determinants of children’s oral health-related quality of life following aesthetic treatment of enamel opacities. J Dent. 2020;98: 103372.
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