Alinhadores e fluxo digital em ortodontia

Tomografia computadorizada por feixe cônico e as especialidades odontológicas

Marcelo de Gusmão Paraíso Cavalcanti, professor titular da disciplina de radiologia da FOUSP, coordenador do curso de Especialização em Radiologia Odontológica da Fundecto-USP, coordenador do curso de Extensão Universitária e do Laboratório de Imagem em 3D da FOUSP.

Jorge Abrão

Com a introdução da tomografia computadorizada por feixe cônico (TCFC) e sua aplicação na odontologia, tornou-se possível uma análise tridimensional do complexo dentomaxilomandibular, pois tal tecnologia consiste na aquisição de imagens volumétricas, as quais são reconstruídas e dispostas em diversos planos, sem sobreposições das estruturas anatômicas, nem ampliações das imagens.

A constante evolução tecnológica, possibilita aos profissionais acesso mais amplo a imagens de excelente qualidade, contribuindo com maior acurácia e sensibilidade no diagnóstico e planejamento do tratamento. E a procura por exame de TCFC tem se tornado uma realidade entre os cirurgiões-dentistas. Deste modo, as aplicações da TCFC estão, sistematicamente, se consolidando na Odontologia contemporânea e constituem uma grande aliada para prática clínica.

Dentre as especialidades odontológicas em que a TCFC é indicada, podemos citar: cirurgia bucomaxilofacial, implantodontia, afecções ósseas dos maxilares, endodontia e lesões periodontais.

Tomografia computadorizada por feixe cônico em cirurgia

A TCFC é uma das modalidades imaginológicas mais utilizadas durante a avaliação, planejamento, execução e acompanhamento em cirurgia bucomaxilofacial.

No que se refere à exodontia de terceiros molares inferiores, o posicionamento do dente, alterações de forma radicular, anquilose, proximidade com o canal mandibular e corticais ósseas devem ser avaliadas. Intercorrências, como por exemplo, fraturas de tábua óssea, são situações que podem ser avaliadas no pós-operatório com o auxílio de TCFC.

A proximidade do assoalho dos seios maxilares aos terceiros molares superiores inclusos também deve ser avaliada, uma vez que manobras mais intempestivas podem resultar em rompimento do assoalho e até mesmo na intrusão de dente ou fragmento dentário para o interior do seio maxilar.

Tomografia computadorizada por feixe cônico em implantodontia

O uso da TCFC é considerado fundamental para o planejamento em implantodontia, permitindo a visualização da anatomia, alterações do rebordo alveolar, planejamento quantitativo e avaliação de pós-operatório (Figura 1).

Figura 1 – Imagens parassagitais demonstrando a acentuada reabsorção do rebordo alveolar na altura do foramen mentual

Considera-se para análise em implantodontia, avaliação de estruturas como seio maxilar, fossa nasal, canal nasopalatino, forame mentual, canal da mandíbula e as variações anatômicas destas estruturas. No pós-operatório, a TCFC contribui para avaliação de enxertos ósseos, localização do implante em relação as estruturas anatômicas e relação do mesmo com as corticais ósseas, assim como na avaliação de defeitos ósseos marginais aos implantes.

Tomografia computadorizada por feixe cônico em endodontia

Uma modalidade de imagem de alta resolução ao alcance do cirurgião-dentista, trazendo informações essenciais as quais são limitadas pelas radiografias periapicais e panorâmica, é parte essencial ao plano de tratamento endodôntico. Neste sentido, a TCFC possui ampla aplicação na pesquisa de fraturas radiculares, bem como na análise da anatomia endodôntica, sobretudo na busca pelo segundo canal mésio-vestibular, interconduto ou canal lateral.

As patologias do periápice constituem grande parte das afecções tratadas pela endodontia e dependendo do grau de destruição óssea provocado pela periapicopatia, as radiografias periapicais poderão não revelar tais condições.

Do mesmo modo, pode ser observada a relação entre as doenças periapicais e as estruturas anatômicas, como seio maxilar e canal da mandíbula. Em relação a faturas radiculares, a TCFC tem demonstrado maior grau de confiabilidade no diagnóstico e aumentada capacidade de detectar fraturas e definir seus trajetos e extensão. Permite ainda obter fundamentais informações sobre a localização em relação aos terços anatômicos radiculares, seu sentido e a face dos dentes (Figuras 2 e 3).

Figura 2 – Imagem coronal. Observa-se imagem com aspecto e densidade compatíveis com fratura vertical, na porção cervical da raiz palatina, que se estende para região de furca (seta). Verifica-se imagem hipodensa, envolvendo a região periapical do dente 16 (com reabsorção externa apical), com rompimento da cortical do assoalho do seio maxilar e imagem compatível com sinusopatia
Figura 3 – Imagem sagital. Observa-se imagem com aspecto e densidade compatíveis com fratura, na porção cervical da raiz disto-vestibular, próxima à região de furca (seta). Observa-se imagem hipodensa, envolvendo a região periapical do dente 16, com extravasamento do material obturador intracanal. O dente 17 apresenta lesão periapical evolvendo ambas as raizes vestibulares

Vale ressaltar que ao se realizar um exame tomográfico, a limitação referente à produção de artefatos na imagem, como materiais metálicos, decorrentes de restaurações, implantes dentários, contenções cirúrgicas e materiais obturadores intracanal, pode intervir substancialmente no diagnóstico tomográfico de fraturas radiculares.

Tomografia computadorizada por feixe cônico em periododontia

Como em outras especialidades odontológicas, também na periodontia, a TCFC contribui de maneira significativa para a localização precisa de comprometimentos ósseos decorrentes da doença periodontal, principalmente, para detecção de lesões com reabsorção óssea mais severa. A TCFC é fundamental para analisar a destruição/alteração óssea, como para avaliar as áreas para a colocação de implantes, assim como lesões periodontais associadas a estes.

Tomografia computadorizada por feixe cônico em afecções ósseas dos maxilares

Em relação ao auxílio diagnóstico final de uma afecção dos maxilares por TCFC, devem-se observar os seguintes aspectos: localização anatômica, tamanho, estágio de desenvolvimento, grau de destruição e/ou expansão ósseas componentes e limites da lesão e seu envolvimento com as corticais palatina, lingual e vestibular, bem como a sua relação com as estruturas adjacentes (Figura 4).

Figura 4 – Cisto dentígero. A – No corte sagital observa-se imagem hipodensa, unilocular, associada a um dente incluso, deslocado para região retromolar e em posição invertida. B – No corte coronal verifica-se o deslocamento do canal da mandíbula para cortical lingual a qual se encontra adelgaçada

Todavia, a TCFC tem como desvantagem a falta da representação dos tecidos moles em comparação a TC helicoidal. Logo, a análise e interpretação dos componentes de partes moles de lesões de características infiltrativas (lesões malignas) restringem-se a avaliação do comportamento e componentes de partes ósseas.

Referências bibliográficas

  1. Cavalcanti MGP. CBCT imaging: perspective, challenges and the impact of near-trend future applications. J Caniofac Surg 2012; 23:279-282.
  2. Cavalcanti MGP. Diagnóstico por Imagem da Face. 2 ed. Editora Santos, São Paulo, 2012. p. 524.
  3. Cavalcanti MGP. Tomografia computadorizada por feixe cônico. Interpretação e diagnóstico para o cirurgião-dentista. 3 ed. Editora Quintessence. 2020. 414p.
  4. Chagas MM, kobayashi-Velasco S, Gimenez T, Cavalcanti MGP. Diagnostic accuracy of imaging examinations for peri-implant bone defects around titanium and zirconium dioxide implants: A systematic review and meta-analysis. Imaging Science in Dentistry v. 51, p. 51-63, 2021.
  5. Cavalcanti MGP, Salineiro FCS, Barros FM, Barros FBA. Influence of endodontic sealers artifacts in the detection of vertical root fractures. Brazilian Dental Journal, v. 33, p. 22-30, 2022.
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