Um remédio que regenera dentes
Depois de resultados animadores em animais, pesquisadores japoneses começaram neste ano testes clínicos em humanos de medicamento que bloqueia a proteína responsável por impedir a formação de novos dentes
A primeira droga capaz de promover a regeneração de dentes ausentes por condições congênitas está em fase de testes clínicos em humanos e poderá ser disponibilizada para uso em clínicas odontológicas a partir de 2030. O estudo está sendo conduzido por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Médicas do Hospital Kitano, em Osaka, no Japão, e é a continuação de uma pesquisa publicada em 2021 no periódico Science Advances e relatada pela Conexão Odontoprev na edição 32.
No artigo original, os pesquisadores de uma força-tarefa de universidades japonesas comprovaram que uma proteína associada a um gene específico (USAG-1), em associação com outras proteínas, tem propriedade de suprimir o crescimento de dentes em mamíferos. Mais especificamente, o USAG-1 é um antagonista da proteína morfogenética óssea 7 (BMP7), essencial para o desenvolvimento dentário. Ao bloquear a interação dessa proteína por meio da aplicação de um anticorpo monoclonal anti-USAG-1, ocorre uma sinalização aumentada da proteína morfogenética óssea (BMP), o que desencadeia o crescimento de novos dentes.
Depois de uma fase inicial em que a aplicação do anticorpo foi capaz de gerar a formação dentária em camundongos com agenesia (ausência de dentes congênita) causada por alguns tipos de anomalias genéticas, os pesquisadores fizeram testes em furões, mamíferos que, assim como os humanos, possuem apenas duas dentições ao longo da vida. O resultado foi que uma única dose do medicamento se provou suficiente para iniciar um processo de formação de dentes novos, com o mesmo formato dos vizinhos. O estudo foi o primeiro a mostrar os benefícios de anticorpos monoclonais na regeneração dentária e forneceu uma nova terapia potencial para um problema clínico que atualmente só pode ser resolvido com implantes e outras medidas artificiais.
Ainda não se sabe se o tratamento poderá ser aplicado a todos os tipos de agenesia dentária e tampouco se servirá para a regeneração de dentes perdidos na idade adulta, mas essa possibilidade existe. Por enquanto, porém, a atual fase de ensaios clínicos em humanos, comandada por Katsu Takahashi, chefe do Departamento de Odontologia do Hospital Kitano, é voltada apenas para pacientes com anodontia congênita, ou seja, pessoas que sofrem com a ausência de dentes desde o seu nascimento.
Entre 2022 e 2023, foram feitos estudos de segurança não clínicos com a nova droga. Deste ano até agosto de 2025, será feita a administração do medicamento em adultos saudáveis para confirmar sua segurança e a dose ideal.
Após a fase dos estudos de segurança, o tratamento será testado em crianças de 2 a 7 anos de idade que, por razões congênitas, não têm quatro ou mais dentes, com o objetivo de confirmar sua eficácia. Estima-se que a anodontia acomete cerca de 1% da população mundial.
Depois de uma nova fase de testes clínicos para confirmar segurança e eficácia da dose ideal, o que deve ocorrer entre 2027 e 2028, Takahashi, que trabalha com regeneração dental desde 2005, espera entrar com um pedido de aprovação junto às autoridades sanitárias do Japão em 2029, para estar apto a lançar o produto no mercado em 2030. A pesquisa é um projeto de colaboração acadêmica, industrial e governamental realizado pelo Hospital Kitano e pela Tregem Biopharma, com o apoio da Agência Japonesa de Pesquisa e Desenvolvimento Médico (AMED).
PARA SABER MAIS:
Artigo original: Murashima-Suginami A, Kiso H, Tokita Y, Mihara E, Nambu Y, Uozumi R, Tabata Y, Bessho K, Takagi J, Sugai M, Takahashi K. Anti–USAG-1 therapy for tooth regeneration through enhanced BMP signaling. Sci Adv. 2021 Feb 21;7:eabf1798. doi: 10.1126/sciadv.abf1798.
Site da pesquisa (em japonês): https://toothreg.jp/