Emergências médicas no consultório: você está preparado?

Saber o que fazer ao deparar com uma situação de urgência em saúde é primordial para todo cirurgião-dentista

Desmaio, infarto, acidente vascular, reação alérgica grave… Ninguém espera, mas as emergências médicas podem acontecer a qualquer pessoa, em qualquer lugar – incluindo, é claro, o consultório odontológico. “As intercorrências não estão necessariamente vinculadas ao procedimento odontológico e são mais comumente atribuídas a alterações sistêmicas pre-existentes do paciente”, explica Eduardo Dias de Andrade, professor titular da área de Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (FOP-Unicamp). Ainda assim, é fundamental que o cirurgião-dentista tenha habilidades tanto para prever e reconhecer diferentes situações quanto para lidar com elas, já que sua ação pode ser determinante para o desfecho do caso. Aqui, o especialista explica o que todo profissional precisa saber sobre o assunto.

Quão frequente é a ocorrência de emergências médicas em consultórios odontológicos?

As emergências médicas são raras, porém alguns fatores têm contribuído para ampliar sua incidência, com destaque para o aumento do número de idosos longevos que procuram tratamento odontológico. Indivíduos com hipertensão, diabetes, asma e demais comorbidades são pacientes regulares dos cirurgiões-dentistas, mas não há estimativas bem estabelecidas do número de ocorrências correlacionadas à quantidade de atendimentos.

Quais são as emergências médicas mais frequentes?

No Brasil, com base nos dados obtidos em um questionário aplicado presencialmente a uma amostra significativa de 498 cirurgiões-dentistas, as emergências mais vivenciadas foram a lipotimia — sensação de desmaio — e a síncope vasovagal, definida como a perda transitória da consciência, desencadeada por fatores emocionais. Os participantes também relataram eventos como dor no peito, crises agudas de asma, episódios convulsivos, hipoglicemia e o engasgo. As situações de maior gravidade, porém muito mais improváveis, ficaram por conta do infarto agudo do miocárdio, acidentes vasculares encefálicos e das reações alérgicas anafilactoide. Também citado, o aumento brusco da pressão arterial sanguínea e da frequência cardíaca, a princípio, pode ser atribuído à sobredosagem dos vasoconstritores adrenérgicos contidos nas soluções anestésicas locais ou mesmo ao “estresse cirúrgico”.

Então, essas emergências podem ou não estar relacionadas aos procedimentos feitos pelo cirurgião-dentista, correto?

Sim. As intercorrências não estão necessariamente vinculadas ao procedimento odontológico e são mais comumente atribuídas a alterações sistêmicas preexistentes do paciente. Entretanto, mesmo no atendimento a sujeitos saudáveis, a ansiedade aguda e o medo podem ser “gatilhos” para deflagrar uma situação emergencial.

Como prevenir essas emergências?

A maioria das emergências pode ser evitada com medidas preventivas. Na anamnese, é possível obter informações úteis não somente para o diagnóstico odontológico, mas também para estabelecer o perfil do paciente, com base em seu estado físico atual. A melhor estratégia é a “técnica do interrogatório cruzado”, em que o profissional faz as perguntas e o paciente responde, em vez de simplesmente preencher uma ficha na sala de espera. Após ouvir a queixa principal e os eventuais sintomas, a investigação tem sequência com o histórico médico de saúde e familiar. Se for relatado algum distúrbio de ordem sistêmica, a anamnese deve ser direcionada ao problema.

Exames físicos também devem ser feitos?

Sim, o passo seguinte é o exame físico extrabucal, que inclui a avaliação dos sinais vitais, particularmente a pressão arterial sanguínea, a frequência cardíaca e a respiratória, além do grau de saturação de oxigênio. Existem monitores multiparamétricos que fazem isso simultaneamente, em tempo real. Então, o paciente pode ser classificado, de acordo com o estado físico atual, por meio do sistema ASA (American Society of Anesthesiologists) adaptado para a clínica odontológica, bastante útil para mostrar se existe maior ou menor risco médico, em função da anestesia local e da extensão do trauma tecidual. Por fim, outros cuidados devem ser tomados para evitar as emergências, como a avaliação do grau de ansiedade do paciente com perguntas e observação. Em alguns casos, pode haver necessidade de condicionamento psicológico, e a sedação mínima farmacológica deve ser considerada adjuvante. Oriente as pessoas a não comparecerem às consultas em jejum, pelo risco de hipoglicemia; evite que vejam seringa, agulha e sangue; respeite dosagens conservadoras dos sais anestésicos e vasoconstritores e avalie o risco de interações farmacológicas adversas, no caso de pacientes que fazem uso contínuo de medicamentos.

Quais são os protocolos comuns em caso de emergências?

As emergências devem ser abordadas de modo individualizado. Contudo, independentemente do tipo e da gravidade da intercorrência, alguns procedimentos podem ser protocolados, pois são comuns frente a qualquer circunstância. A primeira atitude é tentar manter a calma, lembrando que o profissional é o responsável por tudo o que acontecer no atendimento. Cabe a ele assumir o comando da situação e mantê-la sob controle, transmitindo segurança. Alguns tipos de ocorrência, como a lipotimia, podem ser controlados por meio de simples manobras, sem a necessidade da presença de pessoal da área médica. Por outro lado, quadros como infarto agudo do miocárdio certamente precisarão de cuidados médicos avançados e suporte hospitalar, e um serviço de transporte de urgência deve ser acionado imediatamente.

Como se preparar para lidar com as emergências?

O cirurgião-dentista deve estar treinado para socorrer pacientes em casos de asfixia por obstrução das vias aéreas superiores por corpo estranho, por meio de compressões abdominais ou subdiafragmáticas (manobra de Heimlich). Também deve estar habilitado a executar as manobras de suporte básico de vida (SBV), incluídas as técnicas de reanimação cardiopulmonar (RCP), que propiciarão a oxigenação e a circulação do sangue, por meio de liberação das vias aéreas, ventilação artificial e compressão cardíaca externa. O suporte básico de vida inclui manobras que praticamente não dependem da administração de drogas ou medicamentos. Apesar disso, é recomendado que o cirurgião-dentista disponha de um estojo de emergência e de determinados acessórios e equipamentos (monitor para avaliar a pressão arterial e a frequência cardíaca; oxímetro portátil de dedo; glicosímetro; sistema portátil de liberação e administração de oxigênio; máscaras de proteção) que facilitam a atuação no atendimento de episódios emergenciais – e, é claro, que saiba usá-los corretamente.

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